RELATO
DE CASO: ANEURISMA GIGANTE DE ARTÉRIA BASILAR
Chianca,
Giullia Menuci; Coelho, Iohanna Gomes; Santana, Daniel de Paula; Landenberger,
Tiago; Silva, Régis Vinicius de Andrade;
Haygert,
Carlos Jesus Pereira
Hospital Universitário de Santa
Maria (HUSM)
INTRODUÇÃO
Aneurismas
intracranianos são lesões comuns com uma prevalência em torno de 1 a 5% na
população adulta, segundo estimativas de estudos realizados através de
autópsias. Entretanto, a maioria constitui aneurismas pequenos que não irão
romper durante o curso de vida do indivíduo no qual ele se encontra. Embora uma
rara forma familiar seja descrita na literatura, estas lesões são, em geral,
adquiridas esporadicamente.
A hemorragia
subaracnóide decorrente de aneurismas intracranianos nos Estados Unidos ocorre
com uma incidência de, aproximadamente, 27.000 novos casos por ano. A
ocorrência deste tipo de hemorragia cerebral é duas vezes maior em mulheres e o
pico de incidência ocorre em torno de 55 a 60 anos de idade. Dentre os
acidentes vasculares cerebrais (AVC), a ruptura de aneurisma subaracnóide é responsável por 5 a 15% dos casos.
Os aneurismas
intracranianos são passíveis de causar importante morbidade e mortalidade.
Hemorragias decorrentes destes aneurismas tem índices de mortalidade após 30
dias em torno de 45% e, aproximadamente, 30% dos sobreviventes ficarão com
incapacidades moderadas a graves.
O processo de formação,
crescimento e rompimento dos aneurismas ainda é pouco conhecido. Entretanto, a
hipertensão arterial sistêmica e as mudanças vasculares decorrentes do
tabagismo são consideradas importantes fatores de risco. O enfraquecimento da
camada muscular arterial causa defeitos estruturais que somados com fatores
hemodinâmicos propicia o aparecimento de protuberâncias aneurismáticas nos
pontos de ramificações arteriais no espaço subaracnóide da base do cérebro. As
localizações mais freqüentes dos aneurismas cerebrais são na artéria
comunicante anterior, artéria comunicante posterior e artéria cerebral média.
A sintomatologia dos
aneurismas não rompidos varia desde um quadro assintomático até quadros
sintomáticos decorrentes do efeito de massa, como paralisia de nervos cranianos
ou compressão do tronco cerebral. Nesta última apresentação da doença, o risco
de ruptura é maior do que nos quadros assintomáticos de aneurismas menores,
girando em torno de 6% ao ano. Os aneurismas do ápice basilar possuem maior
risco de ruptura.
Quando ocorre ruptura
aneurismática, o quadro pode cursar com cefaléia intensa, rigidez de nuca,
paralisia de nervo craniano, sonolência, déficit focal, hemiparesia ou até coma
profundo com rigidez de descerebração, sendo o quadro clínico dependente da
gravidade da hemorragia.
Quando há suspeita de
hemorragia subaracnóide, a abordagem diagnóstica inicial é feita através de
tomografia computadorizada (TC) sem contraste. Se persistir a dúvida
diagnóstica, pode-se lançar mão de punção lombar para confirmação do
diagnóstico. Após detectada a hemorragia subaracnóide, deve-se confirmar se um
aneurisma constituiu-se o fator causal.
O diagnóstico do
aneurisma pode ser feito através de métodos de imagem que permitem avaliar seu
tamanho e forma, como a angiografia por TC, a angiografia por Ressonância
Magnética e a angiografia direta através de cateter intraarterial.
Após confirmação da
presença de aneurisma, a abordagem terapêutica pode ser feita tanto de uma
forma apenas observacional quanto com intervenção cirúrgica, optando-se por
craniotomia com clipagem ou oclusão endovascular com mola. A terapêutica da
hemorragia subaracnóide é feito com uso de Nimodipina por 21 dias.
Apresentamos um relato
de caso de paciente com aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e
aneurisma gigante basilar que apresentou hemorragia subaracnóide decorrente da
ruptura do aneurisma.
HISTÓRIA
E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Paciente feminina de 56
anos, branca, hipertensa, dislipidêmica, tabagista 30 anos.maço, com história
prévia de dois episódios de infarto agudo do miocárdio (2002 e 2006) e pai e
mãe falecidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC), procurou atendimento no Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM) em outubro de 2008 com queixas de tontura e
náusea há 2 dias. No dia seguinte iniciou com parestesia em hemicorpo direito,
dislalia, dificuldade para manter equilíbrio. Ao exame físico, apresentava-se
em bom estado geral, lúcida, orientada e coerente, com glasgow 15, desvio
medial do olho esquerdo, pupilas isocóricas, desvio da comissura labial para
direita, leve incoordenação motora em membro superior direito (MSD), com força
preservada. Hiperreflexia em membros inferiores (MMII), Babinsk bilateral, leve
perda da coordenação do membro inferior direito (MID).
No dia seguinte, a paciente
evoluiu com piora clínica, com diminuição da força em MSD e disfagia, negando
cefaléia. Ao exame neurológico apresentou força grau IV em MSD, força grau V em
MID, hiperreflexia (mais proeminente em MMII), Babinsk bilateral, nistagmo
horizontal, paralisia abducente à esquerda, desvio comissura labial para direita,
disartria e dismetria.
Após uma semana, a
paciente evoluiu com melhora neurológica, com retorno da força simétrica em
membros. Entretanto, três dias depois, apresentava disdiadococinesia (3+/6+), sensibilidade
tátil diminuida em hemicorpo direito, além das sequelas antes sitadas. Foi transferida
para o hospital São José do Complexo Santa Casa de Misericórdia em Porto
Alegre/RS para que a equipe de neurocirurgia avaliasse possível intervenção
cirúrgica. Porém, o caso foi considerado inoperável.
Um mês depois, houve nova internação no
HUSM, quando a paciente apresentava anisocoria com pupila direita maior que a
esquerda, ptose palpebral à esquerda e perda do reflexo da tosse. Recebeu alta
e uns dias após foi novamente internada para cuidados paliativos.
No final de novembro de
2009, a paciente procura novamente atendimento com queixa de cefaléia na região
temporal esquerda e hemiparesia esquerda há 18 horas. Foi internada e durante a
internação apresentou queixa de tontura e, ao exame físico, apresentava-se com
amaurose e babisnki positivo, ambos à esquerda. Recebeu alta após alguns dias.
Em fevereiro de 2011,
paciente chega ao pronto-atendimento do HUSM em regular estado geral, marido
refere episódio de queda da própria altura há 8 dias e piora da fala há um dia,
com sons incompreensíveis, além de cefaléia há algumas horas. Ao exame físico
apresenta-se desorientada, com paresia bilateral, Babisnki positivo à esquerda,
e diminuição do sensório. Paciente foi internada com deterioração progressiva
do quadro neurológico, diversas paradas cardiorespiratórias revertidas por
manobras de ressuscitação e medicações e evoluiu a óbito após alguns dias.
EXAMES LABORATORIAIS
Foram
realizadas várias Tomografias Computadorizadas (TC) de Crânio, além de uma
Arteriografia seletiva de carótida.
No dia em que foi
internada pela primeira vez com sintomas neurológicos (28/10/2008), o laudo da
TC não evidenciava lesão hemorrágica no parênquima encefálico, porém havia a
presença de imagem arredondada, hiperdensa, anterior ao tronco encefálico com
tênues calcificações periféricas, medindo 2,6 cm de diâmetro, evidenciando
aneurisma de artéria basilar.
O laudo da Arteriografia
feita uns dias antes de sua transferência para Porto Alegre evidenciava aneurisma
sacular de artéria comunicante anterior, opacificando-se pela artéria carótida
esquerda; presença de dilatação fusiforme na artéria basilar; artérias
vertebrais apresentando irregularidades parietais; pequena dilatação
pós-estenótica na artéria vertebral esquerda, segmento intracraniano.
As
tomografias subseqüentes realizadas evidenciaram os mesmos achados da primeira
TC, sem evidências de lesões hemorrágicas. Porém, o diâmetro da artéria basilar
mostrou-se progressivamente maior, com 2,7 cm em 06/11/2008; 2,8 cm em
23/12/2008 e 3,2 cm em 26/10/2010.
A TC de fevereiro de 2011
demonstrou artéria basilar aneurismática, com diâmetro máximo de 3,4 cm, com
calcificações parietais e área hiperdensa de contornos irregulares junto à
parede posterior da artéria basilar, sugestiva de hemorragia. Além disso, havia
discreta hipodensidade no tronco cerebral, levantando a possibilidade de
vasoespasmo. Sinais de redução volumétrica encefálica caracterizado por aumento
dos sulcos cerebrais, fissura silviana, cisternas da base e folias cerebelares.
Impressão Diagnóstica: Aneurisma da artéria basilar. Ateromatose das artérias
carótidas. Sinais de redução volumétrica cerebral e cerebelar.
TERAPÊUTICA
E RESULTADOS
A paciente foi avaliada por
equipe de neurocirurgia do Hospital São José e foi optado por conduta observacional,
por não haver possibilidade de intervenção cirúrgica. No momento em que foi
constatada a presença de hemorragia subaracnóide através de TC, o tratamento
com Nimodipina foi administrado à paciente. As outras medidas tomadas foram de
suporte para o quadro clínico geral da paciente, visto a impossibilidade de
terapêutica cirúrgica para os aneurismas.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
O relato de caso apresentado caracteriza um exemplo de paciente acometido por hemorragia subaracnóide decorrente da ruptura de um aneurisma intracraniano. Neste caso, a paciente apresentava um aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e aneurisma gigante de artéria basilar. Na história familiar da paciente, seus pais faleceram devido acidentes vasculares cerebrais, embora não se tenha informações quanto ao tipo, se hemorrágico ou isquêmico. Além disso, a paciente possuía dois fatores de risco considerados como grandes responsáveis pela formação, crescimento e ruptura de aneurismas: hipertensão arterial sistêmica e tabagismo. Assim, além das alterações estruturais vasculares, os fatores hemodinâmicos contribuem para a ocorrência dos aneurismas e seu risco de ruptura.
O relato de caso apresentado caracteriza um exemplo de paciente acometido por hemorragia subaracnóide decorrente da ruptura de um aneurisma intracraniano. Neste caso, a paciente apresentava um aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e aneurisma gigante de artéria basilar. Na história familiar da paciente, seus pais faleceram devido acidentes vasculares cerebrais, embora não se tenha informações quanto ao tipo, se hemorrágico ou isquêmico. Além disso, a paciente possuía dois fatores de risco considerados como grandes responsáveis pela formação, crescimento e ruptura de aneurismas: hipertensão arterial sistêmica e tabagismo. Assim, além das alterações estruturais vasculares, os fatores hemodinâmicos contribuem para a ocorrência dos aneurismas e seu risco de ruptura.
A paciente, por ser mulher, possuia um risco aumentado
de hemorragia subaracnóide, além disso, sua idade encontrava-se exatamente no
pico de incidência deste evento. Embora hoje as técnicas cirúrgicas de abordagem
dos aneurismas tenham se aprimorado e uma abordagem menos invasiva como a
endovascular com colocação de mola, sem necessidade de craniotomia, seja cada
vez mais realizada, nesta paciente não foi possível realizar qualquer tipo de
intervenção cirúrgica e a paciente faleceu, aproximadamente, dois anos e meio
após os primeiros sintomas neurológicos e detecção da presença dos aneurismas.
Embora a maioria dos aneurismas diagnosticados sejam
pequenos e não irão romper durante o curso de vida do indivíduo,
esta paciente relatada apresentou dois aneurismas, uma na artéria comunicante
anterior e outro na artéria basilar, sendo o segundo um aneurisma gigante que
rompem e ocasionou a morte da paciente.
Assim, embora todo o mecanismo de
formação, desenvolvimento e ruptura dos aneurismas intracranianos não seja
completamente compreendido, os principais fatores de risco relacionados,
hipertensão arterial e tabagismo, devem ser continuamente combatidos na
população em geral, pois nem sempre são lesões benignas sem complicações e nem
sempre a abordagem cirúrgica será possível ou eficiente para evitar morbidade e
mortalidade nos indivíduos portadores de aneurismas intracranianos.
JUSTIFICATIVA
PARA APRESENTAÇÃO
Apresentar caso de
paciente hipertensa e tabagista com aneurisma sacular de artéria comunicante
anterior e aneurisma gigante de artéria basilar que apresentou hemorragia
subaracnóide decorrente de ruptura aneurismática.
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