sábado, 15 de dezembro de 2012
TROMBOSE VENOSA DE SEIOS CEREBRAIS – RELATO DE CASO
Autores: Bevegnú, Ana Maria¹; Oliveira, Luana Reinstein²; Rodrigues, Lucas Kreutz²; Teixeira, Daniela Oliveira³.
1- Médica, formada pela UFSM
2- Acadêmicos do curso de medicina
3- Médica Neurorradiologista intervencionista do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM)
Apresentadora: Luana Reinstein Oliveira
INTRODUÇÃO: A trombose venosa dos seios cerebrais (TVSC) é uma doença incomum, porém com o avanço dos métodos de imagem o diagnóstico tem sido realizado com mais frequência. Suas manifestações variam desde cefaléia intensa até acidente vascular cerebral. Acomete mais as mulheres e apresenta maior incidência quando associada à gestação, puerpério, uso de anticoncepcional oral e infecções. O diagnóstico precoce é a base para o sucesso terapêutico. OBJETIVOS: avaliar o prognóstico de paciente submetida ao tratamento de trombose venosa dos seios cerebrais. METERIAIS E MÉTODOS: Paciente feminina, 54 anos, branca, com história pregressa de ataque isquêmico transitório sem sequelas e de terapia de reposição hormonal, apresentou cefaleia intensa com progressão rápida para confusão mental, crise convulsiva, plegia e disfasia. A paciente progrediu com piora do quadro clínico, evoluindo para ventilação mecânica. Foi suspeitada trombose venosa de seios cerebrais e realizaram-se exames de imagem (tomografia e angiografia) confirmando o diagnostico. Iniciou-se tratamento clinico com trombolítico. Após o tratamento, houve acompanhamento da paciente para avaliar a melhora durante a internação, na alta hospitalar e continua sendo feito follow-up que está em 17 meses. RESULTADOS: observou-se que o tratamento com trombolítico teve como resultado remissão dos sintomas. CONCLUSÃO: A TVSC é causa aguda de doença neurológica. O diagnóstico precoce é importante e possibilita um melhor prognóstico. A trombólise endovascular é uma opção terapêutica a ser considerada e tem apresentado elevados índices de sucesso. O tratamento com trombolíticos e anticoagulantes demonstra melhora do quadro clínico, com menor risco de complicações hemorrágicas. Mesmo sendo considerada uma doença grave, pode haver melhora significativa das alterações neurológicas ao longo de meses ou anos.
Referências:
Rahman M, Velat GJ, Hoh BL, Mocco J. Direct thrombolysis for cerebral venous sinus thrombosis. Neurosurg Focus. 2009 Nov;27(5):E7. Review.
Coutinho JM, Ferro JM, Canhão P, et al. Cerebral Venous and Sinus Thrombosis in Women. Stroke. 2009 Jul;40(7):2356-61.
Mallick AA, Sharples PM, Calvert SE, et. al. Cerebral venous sinus thrombosis: a case series including thrombolysis. Arch Dis Child. 2009 Oct;94(10):790-4. Epub 2009 Jun 24.
Stam J, Majoie CB, van Delden OM, et. al. Endovascular throm bectomy and thrombolysis for severe cerebral sinus thrombosis: a prospective study. Stroke. 2008 May;39(5):1487-90. Epub 2008 Mar 13.
Coutinho JM, Majoie CB, Coert BA, et al. Cerebral venous sinus thrombosis risk factors. Stroke. 2009 Jun;40(6):2233-5.
Srivastava AK, Kalita J, Haris M, et al. Radiological and histological changes following cerebral venous sinus thrombosisin a rat model. Neurosci Res. 2009 Aug 26.
Endovascular Treatment of Infective Aneurysms of the Bilateral Cavernous Sinus. Clin Neuroradiol 2009 May.
Septic Cavernous Sinus Thrombosis with Bilateral Secondary Orbital Infection. Orbit 2007.
Cerebral Venous Thrombosis: A Case Report. The Journal of Emergency Medicine 2009.
Cavernous Sinus Thrombosis Secondary to Facture of Posterior Maxillary Sinus Wall. NYSDJ Aug/September 2009.
AVALIAÇÃO
DA ATIVIDADE DAS ENZIMAS COLINESTERASES EM PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA
Polachini,
C.R.N.; Calgaroto, N.S; Spanevello, R.M.; Schetinger, M.R.C.; Morsch, V.M.
Programa de Pós-Graduação
em Bioquímica Toxicológica, UFSM, Santa Maria, RS;
Introdução: A Esclerose Múltipla (EM) é uma
doença caracterizada por neuroinflamação
e neurodegeneração no sistema nervoso central que
resulta da reação dos linfócitos T e anticorpos contra a bainha de mielina. Tendo em vista, que o sistema
colinérgico contribui para regulação das funções imunes, através de mediadores
como a acetilcolina (ACh). O presente estudo teve por objetivo verificar a atividade das
principais enzimas regulatórias do sistema colinérgico, a acetilcolinesterase (AChE)
e a butirilcolinesterase (BuChE).
Pelo fato da ACh estar relacionada com eventos anti-inflamatórios e sua
concentração plasmática ser regulada pela atividade das colinesterases,
considera-se relevante a avaliação de suas atividades em pacientes com EM. Materiais e métodos: Foram selecionados
20 pacientes com diagnóstico clínico de EM e 20 controles. Coletou-se
sangue por punção venosa, dos indivíduos saudáveis e dos pacientes com EM, em
tubos vaccutaneir com e sem anticoagulante.
A
atividade da AChE de sangue total e da BuChE sérica foram determinadas pelo
método de Ellman et al.(1961) com modificações, sendo a atividade da AChE expressa
em mU/mmol de sangue total e da BuChE em µmol BuSch/h/mg de proteína. Todos os indivíduos
que participaram da presente pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. Os dados foram analisados pelo teste t de Student. Considerou-se
um nível de significância de 5% (P<0,05). Resultados:
Os resultados demonstraram que a atividade da AChE em sangue total (466,9±24,06;
P<0,05) e da BuChE sérica (10,06± 0,54; P<0,05) apresentam-se
elevadas em pacientes com EM quando comparadas com indivíduos do grupo controle
(AChE:360,8±16,36; BuChE:8,31±0,72; P<0,05).
Discussão/Conclusão:
DARVESH et al. (2010) relata que o aumento na atividade da BuChE
poderia contribuir para as respostas
imunes pró-inflamatórias. Estudos prévios em modelo animal demonstraram
que inibidores das colinesterases podem atenuar a liberação de citocinas
pró-inflamatórias (NIZRI et al., 2008). Com o aumento da atividade da AChE e da BuChE em sangue
total e soro dos pacientes com EM encontrado
em nossa pesquisa, sugere-se que a ACh possa ser degradada mais
rapidamente e por conseguinte, seus níveis plasmáticos diminuem. Sabendo-se que
a ACh apresenta propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias, o aumento na
atividade das colinesterases poderia contribuir para as alterações imunológicas
e inflamatórias observadas nesses pacientes com EM.
RELATO
DE CASO: ANEURISMA GIGANTE DE ARTÉRIA BASILAR
Chianca,
Giullia Menuci; Coelho, Iohanna Gomes; Santana, Daniel de Paula; Landenberger,
Tiago; Silva, Régis Vinicius de Andrade;
Haygert,
Carlos Jesus Pereira
Hospital Universitário de Santa
Maria (HUSM)
INTRODUÇÃO
Aneurismas
intracranianos são lesões comuns com uma prevalência em torno de 1 a 5% na
população adulta, segundo estimativas de estudos realizados através de
autópsias. Entretanto, a maioria constitui aneurismas pequenos que não irão
romper durante o curso de vida do indivíduo no qual ele se encontra. Embora uma
rara forma familiar seja descrita na literatura, estas lesões são, em geral,
adquiridas esporadicamente.
A hemorragia
subaracnóide decorrente de aneurismas intracranianos nos Estados Unidos ocorre
com uma incidência de, aproximadamente, 27.000 novos casos por ano. A
ocorrência deste tipo de hemorragia cerebral é duas vezes maior em mulheres e o
pico de incidência ocorre em torno de 55 a 60 anos de idade. Dentre os
acidentes vasculares cerebrais (AVC), a ruptura de aneurisma subaracnóide é responsável por 5 a 15% dos casos.
Os aneurismas
intracranianos são passíveis de causar importante morbidade e mortalidade.
Hemorragias decorrentes destes aneurismas tem índices de mortalidade após 30
dias em torno de 45% e, aproximadamente, 30% dos sobreviventes ficarão com
incapacidades moderadas a graves.
O processo de formação,
crescimento e rompimento dos aneurismas ainda é pouco conhecido. Entretanto, a
hipertensão arterial sistêmica e as mudanças vasculares decorrentes do
tabagismo são consideradas importantes fatores de risco. O enfraquecimento da
camada muscular arterial causa defeitos estruturais que somados com fatores
hemodinâmicos propicia o aparecimento de protuberâncias aneurismáticas nos
pontos de ramificações arteriais no espaço subaracnóide da base do cérebro. As
localizações mais freqüentes dos aneurismas cerebrais são na artéria
comunicante anterior, artéria comunicante posterior e artéria cerebral média.
A sintomatologia dos
aneurismas não rompidos varia desde um quadro assintomático até quadros
sintomáticos decorrentes do efeito de massa, como paralisia de nervos cranianos
ou compressão do tronco cerebral. Nesta última apresentação da doença, o risco
de ruptura é maior do que nos quadros assintomáticos de aneurismas menores,
girando em torno de 6% ao ano. Os aneurismas do ápice basilar possuem maior
risco de ruptura.
Quando ocorre ruptura
aneurismática, o quadro pode cursar com cefaléia intensa, rigidez de nuca,
paralisia de nervo craniano, sonolência, déficit focal, hemiparesia ou até coma
profundo com rigidez de descerebração, sendo o quadro clínico dependente da
gravidade da hemorragia.
Quando há suspeita de
hemorragia subaracnóide, a abordagem diagnóstica inicial é feita através de
tomografia computadorizada (TC) sem contraste. Se persistir a dúvida
diagnóstica, pode-se lançar mão de punção lombar para confirmação do
diagnóstico. Após detectada a hemorragia subaracnóide, deve-se confirmar se um
aneurisma constituiu-se o fator causal.
O diagnóstico do
aneurisma pode ser feito através de métodos de imagem que permitem avaliar seu
tamanho e forma, como a angiografia por TC, a angiografia por Ressonância
Magnética e a angiografia direta através de cateter intraarterial.
Após confirmação da
presença de aneurisma, a abordagem terapêutica pode ser feita tanto de uma
forma apenas observacional quanto com intervenção cirúrgica, optando-se por
craniotomia com clipagem ou oclusão endovascular com mola. A terapêutica da
hemorragia subaracnóide é feito com uso de Nimodipina por 21 dias.
Apresentamos um relato
de caso de paciente com aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e
aneurisma gigante basilar que apresentou hemorragia subaracnóide decorrente da
ruptura do aneurisma.
HISTÓRIA
E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Paciente feminina de 56
anos, branca, hipertensa, dislipidêmica, tabagista 30 anos.maço, com história
prévia de dois episódios de infarto agudo do miocárdio (2002 e 2006) e pai e
mãe falecidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC), procurou atendimento no Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM) em outubro de 2008 com queixas de tontura e
náusea há 2 dias. No dia seguinte iniciou com parestesia em hemicorpo direito,
dislalia, dificuldade para manter equilíbrio. Ao exame físico, apresentava-se
em bom estado geral, lúcida, orientada e coerente, com glasgow 15, desvio
medial do olho esquerdo, pupilas isocóricas, desvio da comissura labial para
direita, leve incoordenação motora em membro superior direito (MSD), com força
preservada. Hiperreflexia em membros inferiores (MMII), Babinsk bilateral, leve
perda da coordenação do membro inferior direito (MID).
No dia seguinte, a paciente
evoluiu com piora clínica, com diminuição da força em MSD e disfagia, negando
cefaléia. Ao exame neurológico apresentou força grau IV em MSD, força grau V em
MID, hiperreflexia (mais proeminente em MMII), Babinsk bilateral, nistagmo
horizontal, paralisia abducente à esquerda, desvio comissura labial para direita,
disartria e dismetria.
Após uma semana, a
paciente evoluiu com melhora neurológica, com retorno da força simétrica em
membros. Entretanto, três dias depois, apresentava disdiadococinesia (3+/6+), sensibilidade
tátil diminuida em hemicorpo direito, além das sequelas antes sitadas. Foi transferida
para o hospital São José do Complexo Santa Casa de Misericórdia em Porto
Alegre/RS para que a equipe de neurocirurgia avaliasse possível intervenção
cirúrgica. Porém, o caso foi considerado inoperável.
Um mês depois, houve nova internação no
HUSM, quando a paciente apresentava anisocoria com pupila direita maior que a
esquerda, ptose palpebral à esquerda e perda do reflexo da tosse. Recebeu alta
e uns dias após foi novamente internada para cuidados paliativos.
No final de novembro de
2009, a paciente procura novamente atendimento com queixa de cefaléia na região
temporal esquerda e hemiparesia esquerda há 18 horas. Foi internada e durante a
internação apresentou queixa de tontura e, ao exame físico, apresentava-se com
amaurose e babisnki positivo, ambos à esquerda. Recebeu alta após alguns dias.
Em fevereiro de 2011,
paciente chega ao pronto-atendimento do HUSM em regular estado geral, marido
refere episódio de queda da própria altura há 8 dias e piora da fala há um dia,
com sons incompreensíveis, além de cefaléia há algumas horas. Ao exame físico
apresenta-se desorientada, com paresia bilateral, Babisnki positivo à esquerda,
e diminuição do sensório. Paciente foi internada com deterioração progressiva
do quadro neurológico, diversas paradas cardiorespiratórias revertidas por
manobras de ressuscitação e medicações e evoluiu a óbito após alguns dias.
EXAMES LABORATORIAIS
Foram
realizadas várias Tomografias Computadorizadas (TC) de Crânio, além de uma
Arteriografia seletiva de carótida.
No dia em que foi
internada pela primeira vez com sintomas neurológicos (28/10/2008), o laudo da
TC não evidenciava lesão hemorrágica no parênquima encefálico, porém havia a
presença de imagem arredondada, hiperdensa, anterior ao tronco encefálico com
tênues calcificações periféricas, medindo 2,6 cm de diâmetro, evidenciando
aneurisma de artéria basilar.
O laudo da Arteriografia
feita uns dias antes de sua transferência para Porto Alegre evidenciava aneurisma
sacular de artéria comunicante anterior, opacificando-se pela artéria carótida
esquerda; presença de dilatação fusiforme na artéria basilar; artérias
vertebrais apresentando irregularidades parietais; pequena dilatação
pós-estenótica na artéria vertebral esquerda, segmento intracraniano.
As
tomografias subseqüentes realizadas evidenciaram os mesmos achados da primeira
TC, sem evidências de lesões hemorrágicas. Porém, o diâmetro da artéria basilar
mostrou-se progressivamente maior, com 2,7 cm em 06/11/2008; 2,8 cm em
23/12/2008 e 3,2 cm em 26/10/2010.
A TC de fevereiro de 2011
demonstrou artéria basilar aneurismática, com diâmetro máximo de 3,4 cm, com
calcificações parietais e área hiperdensa de contornos irregulares junto à
parede posterior da artéria basilar, sugestiva de hemorragia. Além disso, havia
discreta hipodensidade no tronco cerebral, levantando a possibilidade de
vasoespasmo. Sinais de redução volumétrica encefálica caracterizado por aumento
dos sulcos cerebrais, fissura silviana, cisternas da base e folias cerebelares.
Impressão Diagnóstica: Aneurisma da artéria basilar. Ateromatose das artérias
carótidas. Sinais de redução volumétrica cerebral e cerebelar.
TERAPÊUTICA
E RESULTADOS
A paciente foi avaliada por
equipe de neurocirurgia do Hospital São José e foi optado por conduta observacional,
por não haver possibilidade de intervenção cirúrgica. No momento em que foi
constatada a presença de hemorragia subaracnóide através de TC, o tratamento
com Nimodipina foi administrado à paciente. As outras medidas tomadas foram de
suporte para o quadro clínico geral da paciente, visto a impossibilidade de
terapêutica cirúrgica para os aneurismas.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
O relato de caso apresentado caracteriza um exemplo de paciente acometido por hemorragia subaracnóide decorrente da ruptura de um aneurisma intracraniano. Neste caso, a paciente apresentava um aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e aneurisma gigante de artéria basilar. Na história familiar da paciente, seus pais faleceram devido acidentes vasculares cerebrais, embora não se tenha informações quanto ao tipo, se hemorrágico ou isquêmico. Além disso, a paciente possuía dois fatores de risco considerados como grandes responsáveis pela formação, crescimento e ruptura de aneurismas: hipertensão arterial sistêmica e tabagismo. Assim, além das alterações estruturais vasculares, os fatores hemodinâmicos contribuem para a ocorrência dos aneurismas e seu risco de ruptura.
O relato de caso apresentado caracteriza um exemplo de paciente acometido por hemorragia subaracnóide decorrente da ruptura de um aneurisma intracraniano. Neste caso, a paciente apresentava um aneurisma sacular de artéria comunicante anterior e aneurisma gigante de artéria basilar. Na história familiar da paciente, seus pais faleceram devido acidentes vasculares cerebrais, embora não se tenha informações quanto ao tipo, se hemorrágico ou isquêmico. Além disso, a paciente possuía dois fatores de risco considerados como grandes responsáveis pela formação, crescimento e ruptura de aneurismas: hipertensão arterial sistêmica e tabagismo. Assim, além das alterações estruturais vasculares, os fatores hemodinâmicos contribuem para a ocorrência dos aneurismas e seu risco de ruptura.
A paciente, por ser mulher, possuia um risco aumentado
de hemorragia subaracnóide, além disso, sua idade encontrava-se exatamente no
pico de incidência deste evento. Embora hoje as técnicas cirúrgicas de abordagem
dos aneurismas tenham se aprimorado e uma abordagem menos invasiva como a
endovascular com colocação de mola, sem necessidade de craniotomia, seja cada
vez mais realizada, nesta paciente não foi possível realizar qualquer tipo de
intervenção cirúrgica e a paciente faleceu, aproximadamente, dois anos e meio
após os primeiros sintomas neurológicos e detecção da presença dos aneurismas.
Embora a maioria dos aneurismas diagnosticados sejam
pequenos e não irão romper durante o curso de vida do indivíduo,
esta paciente relatada apresentou dois aneurismas, uma na artéria comunicante
anterior e outro na artéria basilar, sendo o segundo um aneurisma gigante que
rompem e ocasionou a morte da paciente.
Assim, embora todo o mecanismo de
formação, desenvolvimento e ruptura dos aneurismas intracranianos não seja
completamente compreendido, os principais fatores de risco relacionados,
hipertensão arterial e tabagismo, devem ser continuamente combatidos na
população em geral, pois nem sempre são lesões benignas sem complicações e nem
sempre a abordagem cirúrgica será possível ou eficiente para evitar morbidade e
mortalidade nos indivíduos portadores de aneurismas intracranianos.
JUSTIFICATIVA
PARA APRESENTAÇÃO
Apresentar caso de
paciente hipertensa e tabagista com aneurisma sacular de artéria comunicante
anterior e aneurisma gigante de artéria basilar que apresentou hemorragia
subaracnóide decorrente de ruptura aneurismática.
POSSÍVEIS
PROBLEMAS CAUSADOS EM CRIANÇAS PELA CONEXÃO ENTRE O TDAH E A EPILEPSIA: Revisão
Bibliográfica
Laureane Salapata¹; Michele
Trindade²; Gabriele Stringari¹
¹ Acadêmica de Terapia Ocupacional; Universidade Federal
de Santa Maria – UFSM
² Mestranda em Reabilitação e Inclusão –
IPA; Professora Substituta Curso de Terapia Ocupacional – UFSM; Docente do
Curso de Terapia Ocupacional - UNIFRA
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
INTRODUÇÃO:
Atualmente
a comorbidade Transtorno de Deficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) e a
epilepsia ainda é pouco compreendida. Com isso, a identificação de transtornos
acometidos por essas, como a restrição da atividade motora, apresenta uma série
de desafios que podem ser minimizados se tratados com cautela.
OBJETIVO: Identificar na
literatura elementos para explicar os transtornos causados em crianças através
da possível associação entre o TDAH e a epilepsia e quais as medidas para
diminuir as conseqüências danificadoras nas crianças.
MÉTODOS:
Foram
utilizadas as bases de dados SCIELO e BDENF sendo selecionados alguns artigos no
período de 2007 a 2011. Além de livros sobre o referido assunto. Incluíram-se
artigos com palavras-chave em TDAH e Epilepsia infantil e a relação entre
ambas.
RESULTADOS:
A
pesquisa da relação ente o TDAH e a Epilepsia mostrou que inúmeras influencias contribuem
para a coexistência desses transtornos. Porém foi possível observar que fatores
como: a propensão genética, a participação dos neurotransmissores dopamina e
noradrenalina, assim como problemas familiares no TDAH e efeitos contrários das
drogas anti epilépticas conhecidas.
CONCLUSÃO:
A
partir desse estudo, foi possível apontar que as crises epilépticas e o TDAH
podem ter fatores neurobiológicos comuns e que drogas psicoestimulantes são seguras e eficazes para o
tratamento do TDAH na maioria dos portadores de epilepsia. Para a redução de
danos de modo geral o uso da medicação ajuda a manter o equilíbrio das
crianças, porém é necessário que o círculo social da criança estabeleça
estratégias para o manejo do comportamento.
AVALIAÇÃO
DOS EFEITOS AGUDOS DA ELETROESTIMULAÇÃO DO MEMBRO SUPERIOR NA FUNÇÃO SENSÓRIO-MOTORA
DE PACIENTES COM HEMIPLEGIA ESPÁSTICA
Figueiredo, A.I.; Prado, A.L.C.;
Silva, A.M.V; Polachini,
C.R.N.
Curso de Fisioterapia, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil.
Introdução: A
estimulação elétrica funcional (FES) vem sendo utilizada no tratamento de
indivíduos portadores de seqüelas por acidente vascular cerebral (AVC). No
entanto, são escassos os estudos analisando os efeitos imediatos da FES prévio
a uma sessão de fisioterapia. Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi
verificar os efeitos agudos da FES na função sensório-motora do membro superior
em pacientes com hemiplegia espástica. Considerando-se, os diversos níveis de
incapacidade funcional decorrentes do AVC e as limitações de mobilidade no
membro superior ressaltadas durante as sessões de Fisioterapia torna-se
relevante a avaliação dos efeitos imediatos da FES. Materiais e métodos: Onze pacientes de ambos os sexos, com
hemiplegia espástica de membro superior secundária a um AVC, foram submetidos a
intervenções com a FES e com a corrente elétrica placebo, em dois dias
diferentes, durante 30 min. Para aplicação do placebo foram utilizados os
mesmos parâmetros da FES, porém com uma intensidade apenas ao nível de limiar
sensitivo, sem a ocorrência de contração muscular visível. Antes e após, cada aplicação
na região posterior do braço e antebraço hemiplégico foi avaliada a função
sensório-motora de membro superior pela Escala de Fugl-Meyer. Os dados com
distribuição normal foram analisados pelo teste t de Student pareado e os com
distribuição assimétrica foram analisados pelo Teste t de Wilcoxon. Foi considerado
um nível de significância de 5% (p<0,05). Resultados: Foi observado um aumento dos valores da Escala de
Fugl-Mayer após a aplicação da FES (88,5 ± 14,7 vs 94,5 ± 15,5; p<0,001) e do placebo (87,3 ± 15,7 vs
90,5 ± 16,7; p<0,007). No entanto, através da
análise do delta de variação, a FES (5,9±4,5) promoveu um maior incremento da
função sensório motora (p<0,033) do que o placebo (3,3±3,2). Discussão/Conclusão:
HARA et al. (2008) relata que o
aumento na estimulação somatosensorial aplicada a um membro hemiplégico pode
beneficiar o desempenho funcional de pacientes com AVC. Trabalhos anteriores descrevem que ambas
as funções sensitiva e motora podem ser restauradas com o uso contínuo da FES
(PECKHAM et al., 2005). Em nosso estudo a aplicação de uma sessão de FES
mostrou-se de grande valia na melhora da função sensório-motora do membro
superior espástico. Esses benefícios demonstram a relevância e a necessidade
dessa terapêutica coadjuvante, como forma de uma possível otimização dos exercícios
cinesioterapêuticos durante uma sessão de fisioterapia.
Perfil dos pacientes atendidos no ambulatório de
neurologia geral do HUSM-UFSM com lesões a nível cerebral(diagnóstico de
AVC,TCE,Neoplasia intracerebral,Esclerose Múltipla) ou a nível de medula
espinhal(com diagnóstico de mielopatias traumáticas e não-traumáticas) com
repercussões agudas e crônicas no trato piramidal: um estudo descritivo
transversal e prospectivo/longitudinal.
Trabalho clínico(extensão),de inovação
tecnológica em saúde e de políticas públicas de saúde apresentada ao DEPE/HUSM-HCAA-HCAB.
Autor: Guilherme Pivetta(Acadêmico de
Medicina-UFSM-HUSM-11º Semestre).
Participantes: Sugestão-Já existe
um grupo de acadêmicos de medicina em estágios iniciais do curso coordenados
pela professora Dra.Michelle Fighera(pesquisadora CAPES).O email do grupo é pesquisasneuro@gmail.com. Além do mais,existe também uma liga acadêmica da
área em atividade. Por se tratar de um
projeto multidisciplinar,estudantes de áreas vinculadas ao CCS já em alguma
atividade de orientação científica poderiam ser convidados.
Orientadores: Sugestão-Primariamente,por questões de organização e
logística,médicos que atuem nas áreas correlatas ao projeto e tenham vínculo
tanto com o HUSM quanto com o HCAA-HCAB,como os Dr(s)Fábio e Daniel de Oliveira
e Fernando Bolli.Portanto,Serviço de Neurologia do HUSM.
Santa Maria-Rio Grande
do Sul.
Outubro de 2012
Resumo:
O
funcionamento sinergístico e harmonioso do aparelho locomotor envolve ,a nível
de sistema nervoso, a ação coordenada de diversas vias funcionalmente
interligadas e dependentes,entre elas o trato piramidal,o sistema nervoso
periférico,da placa motora,além é claro das fibras musculares.Somado a esses
componentes diretamente relacionados a força muscular,existem sistemas
moduladores vitais para o início dos movimentos e modulação do tônus
muscular(gânglios da base) e para coordenação,equilíbrio e controle muscular
fino(cerebelo). Somando a capacidade dos núcleos da base e cerebelo em guardar
memórias motoras e do córtex pré-frontal em fazer um planejamento motor,tem-se
a possibilidade de caminhar,estudar,praticar esportes,enfim,interagir com o
mundo.
Diversas
patologias neurológicas,sobretudo o acidente vascular cerebral,as neoplasias do
SNC,o traumatismo crânio-encefálico e as mielopatias,dentro das suas síndromes
que as caracterizam,podem provocar déficits em uma dessas vias motoras citadas
acima.O foco desse projeto serão as alterações na via piramidal e sua
respectiva síndrome(síndrome da paresia
espástica central),aspectos terapêuticos relacionados aos diagnósticos
etiológicos que levam a ela e as modalidades de reabilitação que são comumente
usadas nesses pacientes.
As
referências bibliográficas priorizadas para a elaboração do texto serão aquelas
emitidas por órgãos governamentais responsáveis pela dispensação dos recursos
humanos e materiais necessários para implementação de serviços condizentes com
a realidade internacional,por isso também se fará uso de artigos científicos
médicos acessíveis mediante portal do periódico Capes(Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior).
Justificativa e objetivos:
Delinear o sistema motor do primeiro neurônio ao
segundo neurônio,e seus tratos e sistemas interligados,com foco no trato
piramidal.Revisar aspectos históricos ligados ao desenvolvimento do
conhecimento nessa área.
Revisar conceitos relativos ao sistema
somatossensitivo e motor a nível medular.
Fazer uma breve revisão da literatura médica aplicada no que concerne ao tratamento quanto à
reabilitação das principais síndromes neurológicas que afetam o sistema motor a
nível central.
Fazer um levantamento através de revisão de
prontuários da prevalência de pacientes atendidos na Neurologia do HUSM(e
outros setores médicos da cidade) com diagnóstico das síndromes neurológicas
discutidas no presente trabalho.Serão avaliados o tratamento e as modalidades
de reabilitação à que os pacientes foram submetidos ou referenciados,fazendo uma
análise crítica a luz do conhecimento médico atual das opções terapêuticas
disponíveis no serviço.Inicialmente,o estudo será composto de uma variante
transversal,através da coleta de dados de pacientes já diagnosticados ou em
processo diagnóstico e assim avaliando sua prevalência e terá,a médio e longo
prazo,uma variante longitudinal,com formulação de hipóteses,por exemplo,através
de estudos duplo-cegos randomizados,baseados no acompanhamento sistemático
desses pacientes e dos pacientes incidentes,nas quais serão buscadas evidências
ainda não claramente definidas na literatura sobre a melhor forma de lidar com
o tratamento e reabilitação cirúrgica ou medicamentosa da síndrome estudada nos
diferentes diagnósticos etiológicos que a desencadeiam.
Finalmente,a
meta é que os profissionais dessas instituições, envolvidos diretamente nos
cuidados com estes doentes, tenham condições técnico-científicas tanto a médio e a longo prazo de proporcionar o
melhor tratamento e acompanhamento à luz dos notáveis avanços da ciência
neurológica e neurocirúrgica nas últimas décadas.
INTRODUÇÃO
1)Aspectos históricos
O sistema
motor,e o nível de compreensão que hoje se tem dele,foi resultado de grandes
avanços no conhecimento sobre o sistema nervoso obtidos a partir do século XIX.
Em sua
autobiografia(4) ,Eric Kandel,um dos
mais renomados neurocientistas da atualidade,ganhador de prêmio Nobel de
Medicina em 2000,enaltece alguns desses grandes cientistas do passado e o
impacto das suas descobertas:
Santiago
Ramon y Cajal(1852-1934) é considerado por Kandel como o mais importante cientista do cérebro
que já existiu,ao desenvolver a chamada
“doutrina do neurônio” a partir da observação de neurônios individuais
tingidos por prata: graças a ele,segundo o autor,foi possível inferir que cada
neurônio é o elemento estrutural e funcional do cérebro,e que seus
prolongamentos(axônios e dendritos) se comunicam com outros neurônios através
de sinapses,que essas conexões são específicas e não generalizadas e que os
sinais num circuito neuronal específico viajam apenas em uma direção.Se isso já
não fosse suficiente,Cajal demonstrou que esses circuitos,no cérebro e medula
espinhal,contêm três classes principais de neurônio; os sensoriais,que respondem à um estímulo específico do
exterior,como tato,visão,audição,olfato e paladar e transmitem essas
informações ao cérebro;os neurônios
motores,que seguem do córtex cerebral como primeiros neurônios, fazem
sinapse a nível de tronco cerebral e medula espinhal e enviam seus segundos
neurônios até as células efetoras,como as células glandulares e musculares;
além também de relatar a existência dos interneurônios, que os comunicam.
Continuando
nessa linha do tempo,Kandel cita o
trabalho de cientistas como Edgar Douglas Adrian(1920),o primeiro a registrar o
potencial de ação em um neurônio sensorial
e suas características,como a propriedade do tudo-ou-nada ou que
caminhos neuronais distintos e não alterações na amplitude do potencial de ação
são responsáveis pelas diferentes ações do SNC.Ainda nas propriedades
neurofisiológicas das células nervosas, é reconhecida a importância do trabalho de Alan
Hodgkin(1914-1998) e Andrew Huxley(1917) com os axônios gigantes das células
nervosas da lula,elucidando o papel dos
movimentos iônicos na produção dos potenciais de ação e repouso ao longo do
neurônio,o que ficou conhecida como hipótese iônica.Bernard Katz(1911-2002) é
citado como o cientista que provou que a transmissão sináptica é de natureza
química,realizada através de substâncias conhecidas como neurotransmissores,as
quais estimulam receptores pós-sinápticos transmissor- dependentes,gerando
assim sinais elétricos nos dendritos pós-sinápticos.
Outros
cientistas citados pelo autor como Wade Marshal(1907-1972) e Wilder
Penfield(1891-1976) tiveram grande importância nos estudos que permitiram um
mapeamento do córtex cerebral: Marshal,em seus experimentos realizados em
macacos,descobriu que toda superfície corporal é representada ponto a ponto num
mapa neural no córtex somatossensorial(giro pós-central,lobo parietal) e que
regiões corporais vizinhas são representadas no cérebro lado-a-lado;já Wilder
Penfield,ampliou estes estudos a seres humanos estimulando-os durante
procedimentos neurocirúrgicos,descobrindo que áreas do corpo mais
sensíveis,como a língua e as mãos,ocupam uma área cortical maior no córtex
somatossensitivo,derivando dessas observações o conhecido Homúnculo de
Penfield.Kandel ainda lembra que o conhecimento desses mapas
corticais,subcorticais e medulares é de extrema utilidade no tratamento dos pacientes
neurológicos ao permitirem diagnósticos topográficos de extrema acurácia.
2)O sistema motor
Partindo
dessa prerrogativa histórica, será revisada, na seqüência,o conhecimento atual
sobre a organização do sistema motor,com foco no trato piramidal (1):
Esquema geral do sistema motor(figura 1)
O córtex
motor primário ocupa uma área lateral e medial delimitada ao giro
pré-central e para-central(área 4) do lobo frontal.A área que representa a
garganta e a laringe se localiza na extremidade inferior do córtex motor
primário;acima dela,em seqüência,encontram-se as áreas que representam a
face,os membros superiores,o tronco e os membros inferiores(o já referido
Homúnculo de Penfield).
À nível histológico,a quinta camada cortical da área 4 contém as características
células piramidais de Betz,que emitem fibras espessamente mielinizadas e de
condução rápida do trato piramidal.
É importante frisar que axônios provenientes da área 4 correspondem à apenas
40% de todas as fibras do trato piramidal,sendo as demais oriundas do córtex motor suplementar(áreas 6 e 8) e de
áreas somatossensitivas circunvizinhas.O
córtex motor primário é considerado,portanto,o local de origem dos
movimentos voluntários,recebendo também estímulos aferentes de outras áreas do
cérebro,a constar a área pré-motora(área 6), núcleo ventro-oral posterior do
tálamo e área somatossensitiva do giro pós-central. Cabe ainda salientar que o córtex pré-motor(área 6) é o centro de
ordem superior para o planejamento e a seleção de programas motores previamente
aprendidos,que serão executados quando necessário pelo córtex motor
primário,tudo isso em cooperação com o cerebelo (coordenação) e gânglios da
base(modulação dos movimentos e controle do tônus muscular).
Na seqüência(vide
figura 1),esse trato motor inicialmente cortical passa pela substância branca cerebral(coroa
radiata),pela alça posterior da cápsula
interna(estrutura delimitada pelo tálamo e núcleo lentiforme) pela parte
central do pedúnculo cerebral(pilar cerebral),pela ponte e pela porção anterior
do bulbo,local onde o trato se evidencia externamente por uma ligeira
saliência denominada pirâmide e onde também 80 a 85% das
fibras piramidais cruzam para o outro lado na chamada decussação das pirâmides, descendo a medula espinhal pela funículo
lateral contra-lateral,como o trato corticoespinhal
lateral. As fibras que não cruzam descem a medula pelo funículo anterior
ipsilateral como o trato corticoespinhal
anterior. Através de interneurônios(aqueles descritos por Cajal),o trato
corticoespinhal se comunica com os grandes neurônios motores do corno anterior
da medula,originando assim o sistema nervoso periférico.
Cabe ainda fazer referência a outra via
intrinsecamente relacionada ao trato
piramidal,no caso o trato corticonuclear, que é uma ramificação da via
piramidal ao nível do mesencéfalo,tendo este
por função inervar os núcleos motores dos nervos cranianos do tronco
cerebral,como o núcleo do nervo oculomotor,troclear e
abducente(mesencefálicos),nervo trigêmeo e facial(pontinos) e os nervos glossofaríngeo,vago,acessório
e hipoglosso(bulbares).
Um importante grupo de fibras,o trato corticopontocerebelar, não-piramidal, transmite
informações do córtex cerebral aos núcleos pontinos do tronco cerebral e destes
ao cerebelo,cuja alça retroativa modula os movimentos planejados.
Sistema motor a nível medular(Figura 2)
Notar na figura os já citados tratos corticoespinhal lateral e anterior(figura
2: 1a e 1b).
Existem também vias centrais motoras não-piramidais com papéis importantes no
controle da função motora,cujos tratos ficam melhor individualizados na medula
espinhal. Essa fibras inicialmente corticais fazem conexões sinápticas com os núcleos da base(caudado e putâmen),substância negra mesencefálica,núcleo rubro
mesencefálico,formação reticular do tronco cerebral e tecto mesencefálico,cujos
segundos neurônios formam tratos na medula a exemplo do trato corticoespinhal(vide figura 2: 2a,2b,2c e 2d) e permitem assim que os núcleos da base,cerebelo e
núcleos motores do tronco cerebral influenciem a função medular e motora.
Observar também na figura 2,em azul,as vias
sensoriais ascendentes,responsáveis pela captação da propriocepção corporal inconsciente(tratos espinocerebelar anterior
e posterior- 4a e 4b),do sentido
posicional,vibratório,discriminatório e de tato e pressão (sistema coluna
dorsal-leminisco medial- 3a e 3b) e da dor
e temperatura (trato espinotalâmico lateral- 5). Esses conceitos sensoriais
serão necessários para o melhor entendimento das afecções da medula espinhal
que também atingem os tratos motores,a serem ainda revisadas no presente
projeto.
Finalmente,a lesão das vias motoras
centrais(diga-se piramidais) revisadas previamente causam uma síndrome
neurológica conhecida como síndrome da
paresia espástica central,consistindo de: 1)Diminuição da força muscular e
alteração do controle muscular fino;2) Tônus
aumentado espástico(hipertonia elástica);3)
Reflexos extensores exaltados,possivelmente com clônus;4) Reflexos patológicos(Babinsk).
Essa síndrome clínica,seu tratamento e reabilitação é,em última
instância,o foco desse projeto.
A intensidade da perda da força muscular e o grau
de espasticidade podem ser medidos/aferidos com um bom grau de confiabilidade
através de tabelas padronizadas(tabela 1 e 2)
3) Diagnósticos etiológicos:
Serão
revisados na seqüência doenças que afetam o sistema nervoso cuja síndrome
clínica ocasione freqüentemente déficits/lesões nas vias motoras centrais.
3.1) Neoplasias do Sistema Nervoso
Central(referências 3-5-6-7-8-9-10)
O termo tumores
cerebrais refere-se a um grupo misto de neoplasias originadas do tecido
cerebral e meninges com graus de malignidade variando do benigno ao extremamente agressivo.
Segundo dados do INCA,esperam-se para o Brasil em
2012, 4820 novos casos de câncer do SNC em homens e 4450 em mulheres,o que está
de acordo com a média geográfica mundial,em que estes tumores representam 2% de todas as neoplasias,sendo portanto um
tumor considerado raro. A distribuição etária
da incidência se apresenta com característica peculiar, ou seja, possui um pico
em crianças e outro em adultos acima dos 45 anos. A incidência dos tumores do
SNC é ligeiramente mais alta no sexo masculino do que no feminino. Na maioria
dos países desenvolvidos, a mortalidade por essa neoplasia ocupa a 12ª posição.
A etiologia desse câncer ainda é pouco conhecida, mas a irradiação terapêutica
é sabidamente uma de suas causas, mesmo que a ocorrência, nesses casos, seja
muito rara. Traumas físicos na região da cabeça e traumas acústicos (casos de
trabalhadores expostos a alto nível de som) também são possíveis fatores de
risco para tumores do SNC. Exposições a certas ocupações também são
consideradas como possíveis fatores de risco, como trabalhadores da indústria
petroquímica, lavradores, embalsamadores, entre outros. Alguns estudos sugerem que
radiação gerada por radiofreqüência, telefonia móvel e telecomunicação está
associada à etiologia desses tumores, porém esse assunto permanece
inconclusivo.
Critérios
de McDonald revisados e adaptados
APRESENTAÇÃO
CLÍNICA
|
DADOS
ADICIONAIS NECESSÁRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DE EM
|
A) 2 ou mais surtos mais evidência
clínica de 2 ou mais lesões.
|
Apenas 1 ou 2 lesões sugestivas de
EM à RM
|
B) 2 ou mais surtos mais evidência
clínica de 1 lesão
|
Disseminação no espaço,
demonstrada por RM com critérios de Barkhoff (presença de pelo menos 3 das 4
características a seguir: (a) pelo menos 1 lesão impregnada pelo gadolínio ou
pelo menos 9 lesões supratentoriais em T2; (b) pelo menos 3 lesões
periventriculares; (c) pelo menos 1 lesão justacortical; (d) pelo menos 1
lesão infratentorial
OU
RM com 2 lesões típicas e presença
de bandas oligoclonais ao exame do líquor;
OU
Aguardar novo surto.
|
|
|
C) 1 surto
mais evidência clínica de 2 lesões
|
Disseminação
no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões ou pelo menos 1
das antigas impregnada pelo gadolínio;
OU
Aguardar
novo surto.
|
D) 1 surto
mais evidência clínica de 1 lesão.
|
Disseminação
no espaço, demonstrada por RM com Critérios de Barkhoff ou RM com 2 lesões
típicas e presença de bandas oligoclonais no exame do líquor
E
Disseminação
no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões ou pelo menos 1
das antigas com impregnada pelo gadolínio
OU
Aguardar
novo surto.
|
|
|||
FUNÇÕES PIRAMIDAIS:
|
|||
Normal
|
0
|
||
Sinais
anormais sem incapacidade
|
1
|
||
Incapacidade
mínima
|
2
|
||
Discreta
ou moderada paraparesia ou hemiparesia; monoparesia grave
|
3
|
||
Paraparesia
ou hemiparesia acentuada; quadriparesia moderada; ou monoplegia
|
4
|
||
Paraplegia,
hemiplegia ou acentuada quadriparesia
|
5
|
||
Quadriplegia
|
6
|
||
Desconhecido
|
(*)
|
||
FUNÇÕES CEREBELARES:
|
|||
Normal
|
0
|
||
Sinais
anormais sem incapacidade
|
1
|
||
Ataxia
discreta em qualquer membro
|
2
|
||
Ataxia
moderada de tronco ou de membros
|
3
|
||
Incapaz
de realizar movimentos coordenados devido à ataxia.
|
4
|
||
Desconhecido
|
(*)
|
||
FUNÇÕES DO TRONCO CEREBRAL:
|
|||
Normal
|
0
|
||
Somente
sinais anormais
|
1
|
||
Nistagmo
moderado ou outra incapacidade leve
|
2
|
||
Nistagmo
grave, acentuada paresia extraocular ou incapacidade moderada de outros nervos
cranianos
|
3
|
||
Disartria
acentuada ou outra incapacidade acentuada
|
4
|
||
Incapacidade
de deglutir ou falar
|
5
|
||
Desconhecido
|
(*)
|
||
|
|
||
Deve garantir que os dados serão utilizados específicamente para aquela pesquisa, com garantia de privacidade e confidencialidade dos dados.
Deve vir assinado pelo pesquisador responsável.
AQQuanto a localização,a maioria dos tumores em adultos são
supra-tentoriais,aparecem nos lobos frontal,temporal e parietal e são com
grande freqüência derivados histologicamente de células gliais da substância
branca cerebral,incluindo os astrocitomas difusos GRAU II e III da OMS(derivado
dos astrócitos),glioblastomas(astrocitoma difuso GRAU IV de malignidade),oligodendrogliomas(derivado
dos oligodendrócitos) e outros gliomas inespecíficos.Cada tipo de tumor tem seu
próprio comportamento biológico,tratamento e prognóstico.
São comuns os seguintes sinais e sintomas nas
neoplasias do SNC: cefaléia,convulsões,déficits
neurológicos focais e alterações cognitivas e de personalidade inespecíficas.
Déficits neurológicos motores,como hemiplegias ou hemiparesias,são
associados a tumores que atinjam o lobo
frontal ou tronco cerebral,por afetarem as vias motoras já discutidas no tópico 2. Outros déficits
neurológicos focais encontrados são afasias(áreas de Broca e Wernick,nos lobos frontal
e parietal),
apraxias(áreas associativas multimodais dos lobo frontal-córtex
pré-motor- e área parietal posterior),alterações
somatossentivas (giro pós-central,tronco cerebral),hemianopsias,quadrantopsias (lobo
occipital,lobo temporal) e síndromes amnésicas(lobo temporal).
A
excisão neurocirúrgica total é a primeira opção terapêutica a ser
considerada nos tumores do SNC. Porém,existem situações em que os tumores podem
ser acompanhados clinicamente sem cirurgia (astrocitoma de baixo grau de
malignidade em paciente jovem assintomático),ao mesmo tempo em que há casos em
que os tumores não podem ser totalmente
ressecados (paciente em mal-estado geral,tumores infiltrativos em ambos os
hemisférios).
Técnicas de mapeamento cortical com eletroestimulação cortical direta, potencial
evocado motor e somatossensitivo trans-operatório,neuronavegação e conhecimento
tridimensional da microanatomia cirúrgica são tecnologias que permitem
maior grau de ressecção tumoral e melhor resultado funcional pós-operatório
para paciente.
Radioterapia
e quimioterapia
são modalidades terapêuticas utilizadas em protocolos de tratamento de muitos
tumores do SNC,especialmente os mais malignos,cujo caráter infiltrativo
microscópico torna impossível a “cura” cirúrgica.
No geral,o prognóstico dos pacientes
com tumores malignos do SNC é ruim,sobretudo nos tumores anaplásicos de grau
intermediário de malignidade(GRAU III) e nos tumores de alto grau de
malignidade-glioblastomas(GRAU IV),com sobrevida média de 3 anos e 1
ano,respectivamente. Tumores com comportamento inicialmente benigno,como
astrocitomas pilocíticos(GRAU I),meningiomas(tumor mesodérmico),oligodendrogliomas
de baixo grau e ependimomas,são patologias cuja cura é algo factível,com melhor
prognóstico a longo prazo.
A despeito desse quadro geral,a
literatura disponível a respeito dos tumores cerebrais enfatiza que a tanto a
modalidade cirúrgica quanto a reabilitação pós-operatória a que o paciente será
submetido tem um importante impacto em termos de sobrevida e qualidade de vida.
Estudo de H.Duffau et al(JNNP 2005),por exemplo, trata da experiência de
um serviço francês com estimulação cortical direta(DBS) para formação de mapas
corticais e subcorticais funcionais durante cirurgia de tumores intracranianos
(gliomas de baixo grau) próximos ou dentro de áreas eloqüentes,entre elas a
área motora. A estimulação intra-operatória permitia ao grupo identificar áreas
que,se ressecadas,trariam déficits focais ao paciente e assim definir os
limites precisos da ressecção cirúrgica. Além disso,eles compararam os
resultados obtidos com uma amostra de pacientes anteriormente operados por eles
sem a tecnologia.Resultado: o grupo operado com a tecnologia teve maior
indicação de ressecção em áreas aparentemente eloqüentes pela RM,menor grau de
déficits neurológicos pós-operatórios e ressecção tumoral subtotal ou total em
um maior percentual de pacientes.
Esse mesmo grupo de pesquisadores(H.Duffau et al,JNNP 2003),observou que
pacientes operados por gliomas de baixo grau em áreas eloqüentes do
cérebro(diagnóstico pré-operatório por RM e intra-operatório por DBS),sem
déficits neurológicos relacionados à essas áreas no pré-operatório,quando
submetidos a ressecções guiadas por eletroestimulação e formação de mapas
corticais,em que sempre se poupavam áreas primárias do cérebro(córtex motor
primário,somatossensitivo primário,áreas da linguagem) e se ressecavam áreas
secundárias(p.ex,córtex pré-motor),embora viessem a desenvolver déficits
relacionados a essas ressecções num primeiro
momento(hemiparesia,hemiplegias),na
maioria dos casos acabavam por apresentar recuperação neurológica completa em 3
meses.Conclusão do trabalho: áreas corticais eloqüentes secundárias e mesmo
áreas primárias podem ser removidas sem induzir déficit neurológico
definitivo,refletindo um reorganização dinâmica têmporo-espacial de funções corticais induzida pelo ato cirúrgico(neo-sinaptogênese,plasticidade
neuronal,etc). Outro trabalho complementa o descrito anteriormente ao relatar o
caso de 3 pacientes que não tiveram seus tumores totalmente removidos em função
desses invadirem áreas eloqüentes primárias do cérebro;em função de recorrência
tumoral,eles foram re-operados e submetidos a mapeamento cortical,que
demonstrou reorganização funcional dessas áreas corticais anteriormente não
ressecadas em outras regiões do cérebro,permitindo ressecção tumoral total.
A reabilitação está muito relacionada
ao prognóstico do próprio tumor e a modalidade de tratamento oferecida[10].
3.2)Acidente
Vascular encefálico( fonte: Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas:
linhas de cuidados em AVC nas redes de atenção à urgência e emergência,2012,Ministério
da Saúde;e artigos 11,12 e 13):
O
Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das maiores causas de morte e
incapacidade adquirida em todo o mundo.A mortalidade varia consideravelmente em
relação ao grau de desenvolvimento sócio-econômico,sendo que cerca de 85%
ocorre em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e um terço dos casos
atinge a parcela economicamente ativa da população.Considerando-se a previsão
de um crescimento da ordem de trezentos por cento da população idosa nas
próximas três décadas,concentrado nos países em desenvolvimento,o prognóstico
epidemiológico do AVC torna-se ainda mais sombrio.
Estatísticas
brasileiras indicam que o AVC é a causa mais freqüente de óbito na população
adulta(10% dos óbitos) e consiste
no diagnóstico de 10% das internações hospitalares públicas.A mortalidade nos primeiros 30 dias é
de 10%, atingindo 40% no primeiro ano pós-evento. A imensa maioria dos sobreviventes necessita de reabilitação para as
seqüelas neurológicas conseqüentes, sendo que aproximadamente 70% não retornam
ao seu trabalho e 30% necessita de auxílio para caminhar.
Nos últimos 15 anos, o advento de
novas abordagens da fase aguda dos pacientes com AVC, a terapia trombolítica e
os cuidados em Unidades de AVC, trouxeram excepcional avanço do ponto de vista
prognóstico aos pacientes. Ambos demonstram níveis de evidência relevantes ao
ponto de se configurarem como as principais formas de intervenção com melhores
resultados prognósticos.
Diante do exposto acima e do inegável
impacto social, econômico e previdenciário do AVC, é urgente a necessidade de
reformulação do sistema de atendimento, abordando de forma integrada o
paciente, disponibilizando as melhores estratégias de diagnóstico e tratamento
conhecidas atualmente.
Os modelos assistenciais de cuidado
integral ao paciente com AVC agudo mais difundidos no mundo, com relevante
evidência científica, prevêem a inclusão de diversos pontos de atenção à saúde,
distribuídos em padrão reticular, com fluxos pré-definidos. Dentro deste
conceito devem estar previstas a educação
popular em saúde, as ações da
atenção básica, os serviços de
urgência/emergência (hospitalares, componentes fixos e móveis), as Unidades de AVC, a reabilitação, cuidados ambulatoriais pós-ictus e a reintegração social.
As unidades de AVC: O Ministério da Saúde contempla a
possibilidade de organização de três centros de atendimento de urgência ao
paciente com evento cerebrovascular agudo,referidos como os de tipo 1,2 e 3.
Tipo 1:
Estabelecimentos
hospitalares que desempenham o papel de referência para atendimento aos
pacientes com AVC, que disponibilizam e realizam o procedimento com o uso de
trombolítico, conforme Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - PCDT ,e
que cumpram com os seguintes requisitos:
*Realizar
atendimento de urgência vinte e quatro horas por dia, todos os dias da semana,
inclusive finais de semana;
*
Realizar exame de tomografia computadorizada de crânio nas vinte e quatro horas
do dia;
*Dispor
de equipe treinada em urgência para atendimento aos pacientes com AVC, composta
por médico, enfermeiro, técnicos de enfermagem e coordenada por neurologista com
título de especialista em neurologia, reconhecido pelo Conselho Federal de
Medicina (CFM) ou Conselho Regional de Medicina (CRM) ou residência médica em
Neurologia reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC);
*Disponibilizar
protocolos clínicos e assistenciais escritos;
*Fornecer
cobertura de atendimento neurológico, disponível em até trinta minutos da
admissão do paciente (plantão presencial ou sobreaviso à distância ou suporte
neurológico especializado por meio da telemedicina);
*Possuir
leitos monitorados para o atendimento ao AVC agudo, com médico vinte e quatro
horas por dia e equipe treinada para o atendimento, podendo ser no serviço de
urgência ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI);
*Possuir
UTI Tipo II ou III;
*
Realizar serviço de laboratório clínico em tempo integral;
*
Dispor de equipe neurocirúrgica vinte e quatro horas (presencial ou disponível
em até duas horas); e
*
Realizar serviço de hemoterapia.
Tipo 2:
Conta com a Unidade
de Cuidado Agudo ao AVC (U-AVC Agudo). Necessita
de área física definida, no mínimo, com
05 leitos exclusivamente destinados
ao atendimento do paciente com AVC (isquêmico, hemorrágico ou acidente
isquêmico transitório), durante a fase
aguda (até 72 horas da internação),
oferecendo, inclusive, tratamento trombolítico endovenoso para o AVC isquêmico.
O atendimento é feito de forma
multiprofissional, com a inclusão de fisioterapia e fonoaudiologia. O
tratamento de fase aguda é coordenado pelo neurologista.
O hospital deve realizar os seguintes procedimentos: Eletrocardiograma
(ECG), Serviço de laboratório clínico em tempo integral, Serviço de Radiologia,
Serviço de Hemoterapia, Ultrassonografia Doppler Colorido de Vasos (Exame de
Doppler de Artérias Cervicais), Ecocardiografia Transtorácico e Transesofágico
e Angiografia. E possuir acesso garantido por meio de termo de compromisso aos
seguintes procedimentos: Angiotomografia, Ressonância Magnética,
Angioressonância, Ecodoppler transcraniano e Neuroradiologia intervencionista.
Os recursos humanos
e materiais são também um pré-requisito para organização de uma U-AVC Agudo:
todos os profissionais são monitorados por um responsável
técnico(Neurologista-MEC,CRM) e além do responsável técnico,há necessidade de
outros profissionais da mesma especialidade para cobrir a exigência de
cobertura neurológica 7 dias por semana,24 horas por dia.Os demais recursos
humanos e materiais são especificados no protocolo.
Tipo 3:
Além dos quesitos necessários para o
Tipo II, deve contar com Unidade de Cuidado Integral ao AVC (U-AVC Integral).
A U-AVC Integral inclui a U-AVC Agudo, podendo compartilhar ou não o mesmo
espaço físico. É necessário possuir, no mínimo, 10 leitos e objetivar o
atendimento da totalidade dos casos de AVC agudo admitidos na instituição
(exceto aqueles que necessitarem de terapia intensiva e aqueles para os quais
for optado por suporte com cuidados paliativos). Tem, também, o papel de dar
continuidade ao tratamento da fase aguda, reabilitação precoce e investigação
etiológica completa. Deve contar com ambulatório especializado para dar suporte
à rede (preferencialmente próprio ou referenciado).Também para ser efetivada
necessita dos recursos humanos e materiais estabelecidos no protocolo.Além
disso,devem registrar uma série de dados referentes ao tipo de profilaxia
estabelecida (anticoagulante,estatina,antiagregante plaquetário),os tipos de
complicações após a baixa do paciente(escara,ITU,pneumonia,TVP),a mortalidade
intra-hospitalar,o tempo porta-agulha e porta-TC,etc).
As diretrizes clínico-assistenciais: Após a instalação das unidades,os
serviços preferencialmente devem seguir as orientações terapêuticas presentes
no referido documento.
O diagnóstico de
AVC deve ser suspeitado sempre que o paciente apresentar início súbito de
déficit focal, com ou sem alteração do nível de consciência.
Principais sinais de alerta:
* Perda súbita de força ou
formigamento de um lado do corpo – face e/ou membro superior e/ou membro
inferior;
*
Dificuldade súbita de falar ou compreender;
*Perda
visual súbita em um ou ambos os olhos;
* Súbita tontura, perda de equilíbrio e ou de coordenação;
* Dor de cabeça súbita, intensa sem causa aparente;
AVC ISQUÊMICO: São relatadas no protocolo duas opções terapêuticas(orientadas a partir
de prescrições-padrão) após o
diagnóstico de AVC isquêmico ser estabelecido:
Prescrição
padrão inicial para AVC Isquêmico Agudo com Trombólise(observar em publicações
específicas os critérios de inclusão e exclusão à trombólise)
*Dieta
suspensa;
*
Puncionar dois acessos venosos periféricos calibrosos antes da trombólise;
*
Monitoração cardíaca e oximetria continua;
*
Monitoração da pressão arterial não invasiva – 15/15 min;
*
Manter a PAS entre 160 e <180 mmHg e a PAD < 105 mmHg;
*
Glicemia capilar de 1/1h;
*
Escala NIH 30/30 min nas primeiras 6 horas e depois 1/1h nas primeiras 24
horas;
*
Se piora súbita ≥ 4 pontos na escala do NIH e/ou cefaléia intensa, piora do
nível de consciência, elevação súbita da pressão arterial,náuseas e vômitos:
solicitar TC crânio sem contraste urgente, hemograma, TP, PTTa, plaquetas e
fibrinogênio e acionar neurologista;
*
Não utilizar antiagregantes, heparina ou anticoagulante oral nas primeiras 24
horas pós-trombolítico;
*
Não realizar cateterização venosa central ou punção arterial nas primeiras 24
horas;
*
Não introduzir sonda vesical até pelo menos 30 minutos do término da infusão do
trombolítico;
*
Não introduzir sonda nasoenteral nas primeiras 24 horas após a infusão do
trombolítico;
* Alteplase 50mg/50 ml: 0,9 mg/Kg
(até no máximo 90mg), 10% EV em bolus e o restante em bomba de infusão em 1
hora;
*
Esmolol ou Nitroprusseto de sódio ou Metoprolol EV (Alvo: PAS> 160 mmHg e
< 180/105 mmHg) – não iniciar
trombólise se a PA não estiver controlada;
*
Estatina;
* Hidratação
venosa à base de solução fisiológica 0,9%.
Critérios para a Terapia
Trombolítica
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Serão incluídos no protocolo de
tratamento com alteplase intravenosa todos os pacientes com diagnóstico clínico
e tomográfico de AVC isquêmico e que, além disso, apresentarem:
*Avaliação de médico neurologista
que confirme AVC isquêmico;
* Quadro clínico de AVC com
início há menos de 4,5 horas desde o início dos sintomas até a infusão do
medicamento;
* Idade superior a 18 anos;
Não há estudos clínicos para indivíduos com menos de 18 anos
*
Tomografia computadorizada ou Ressonância Magnética sem sinais de hemorragia
intracraniana.
NOTA: O paciente ou responsável legal
devem ser esclarecidos quanto aos riscos e benefícios do tratamento
trombolítico, e deve ficar registrado em prontuário a realização deste
esclarecimento,assim como a concordância em utilizá-lo.
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Serão excluídos deste protocolo de
tratamento todos os pacientes com pelo menos uma das condições abaixo:
* Sinais e
sintomas leves (com comprometimento funcional discreto) ou de resolução
completa espontânea.
*Área de
hipodensidade precoce à tomografia computadorizada (sugestiva de área isquêmica
aguda), com acometimento maior do que um terço do território da artéria
cerebral média;
* Qualquer
cirurgia intracraniana, trauma craniano ou histórico de AVC nos 3 meses
anteriores ao tratamento trombolítico;
* Conhecido
aneurisma, malformações arteriovenosas ou tumores intracranianos;
* Cirurgia de
grande porte nos últimos 14 dias;
* Punção
lombar nos últimos 7 dias;
* Infarto
agudo do miocárdio nos últimos 3 meses;
* Histórico
de hemorragia intracraniana;
* Pressão
arterial sistólica após tratamento anti-hipertensivo > 185 mmHg;
* Pressão
arterial diastólica após tratamento anti-hipertensivo > 110 mmHg;
* Suspeita de
hemorragia subaracnóide;
* Hemorragia
gastrointestinal ou genitourinária nos últimos 21 dias;
* Glicemia < 50 mg/dl ou > 400 mg/dl;
* Contagem de plaquetas < 100.000/mm3;
* Defeito na coagulação (RNI maior que 1,7);
* Uso de heparina nas últimas 48 horas com TTPA acima
do valor de referência local;
* Sintomas que apresentaram melhora espontânea antes
do tratamento;
* Sintomas neurológicos pouco importantes e isolados
(por exemplo, hemi-hipoestesia pura);
* Evidência de sangramento ativo em sítio não passível
de compressão mecânica ou de fratura ao exame físico;
* Convulsões no início do
AVC (contra indicação relativa - para diagnóstico diferencial com paralisia
pós-convulsão);
*Determinados
fatores interferem no risco/benefício da terapia trombolítica, não sendo,
contudo, contra-indicação absoluta de seu uso: NIHSS > 22, idade > 80
anos e a combinação de AVC prévio e diabete mélito.
Manejo dos parâmetros fisiológicos no AVC isquêmico:
a)Pressão arterial (PA): No paciente candidato à trombólise
ou pós-trombólise, a PA deve ser controlada com anti-hipertensivo EV e mantida
< 180/105 mmHg. Tentar manter PAS preferencialmente > 160 mmHg: utiliza-se
esmolol ou nitruprussiato de sódio(ver diluições no protocolo)
*Nos
pacientes não submetidos à trombólise, utilizar anti-hipertensivo se PAS ≥
220mmHg ou PAD ≥ 120mmHg ou se suspeita de dissecção de aorta, Infarto agudo do
Miocárdio concomitante, Edema agudo de pulmão;
* Se o
paciente apresentar hipotensão com o tratamento anti-hipertensivo, iniciar
infusão de solução fisiológica (SF 0,9% 500 ml em bolus se PAS < 140 mmHg)
e, se esta não for efetiva, iniciar vasopressor (norepinefrina 4 mg/4 ml: 2
ampolas em 242 ml SF– se PAS < 140 mmHg sem resposta à volume).
b. Manter a saturação de oxigênio ≥92%: O2 cateter
nasal ou máscara;
c. Manter temperatura axilar menor que 37,5ºC;
d. Manter glicemia > 70 mg/dl e < 200 mg/dl;
e. Manter monitoração cardíaca contínua para detecção
precoce de alterações miocárdicas isquêmicas ou arritmias;
f.
Considerar intubação endotraqueal se Glasgow ≤ 8. Não deve ser guiada somente por um
determinado valor de corte da Escala de Coma de Glasgow, mas por evidência de
rebaixamento de consciência com claro sinal clínico de insuficiência
respiratória (pO2 < 60mmHg ou pCO2 > 50 mmHg), ou se evidente risco de
aspiração. Sedação adequada deve preceder o procedimento de intubação
independentemente do nível de consciência à admissão.
g. Soro Fisiológico 0,9% IV contínuo (cuidado em pacientes com
insuficiência cardíaca);
h.
Não utilizar solução glicosada isotônica 5% para repor volume.
Prescrição padrão
inicial para AVC Isquêmico Agudo sem Trombólise deve contar com:
*Dieta
suspensa até avaliação da capacidade adequada de deglutição pela
Fonoaudiologia;
* Estatina
VO/SNE;
* AAS 100-300
mg/dia;
* Se
contraindicação à AAS: Clopidogrel 75 mg 4 comprimidos VO no primeiro dia
seguidos de 75 mg/dia (durante internação hospitalar);
*Enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou
heparina não-fracionada 5000 UI SC 8/8 h (em pacientes de risco para TVP).
Prescrição/Cuidados gerais independente do
uso ou não da trombólise química:
* Verificar os sinais vitais
(pressão arterial, pulso, saturação, temperatura axilar);
* Posicionar a cabeceira a 0
graus (exceto se vômitos).Neste caso manter cabeceira a 30 graus;
* Acesso venoso periférico em
membro superior não parético;
* Administrar oxigênio por
cateter nasal ou máscara, se oximetria < 92%;
*Checar glicemia capilar –
hipoglicemia pode causar sinais focais e simular um AVC. Se glicose < 70
mg/dl,administrar glicose hipertônica 50% 20 ml;
* Aplicar a escala
pré-hospitalar de AVC;
*Determinar a hora do início
dos sintomas e sinais, que pode ser referida pelo paciente (se este estiver
orientado e coerente) ou pelo acompanhante (o horário do início dos sintomas é
o último momento que o paciente foi visto sem sinais e sintomas neurológicos).No
caso do início dos sintomas serem observados ao acordar, será considerado o
último momento em que o paciente foi visto sem sintomas, antes de dormir;
*Não
reduzir níveis pressóricos, exceto se pressão arterial sistólica ≥ 220 mmHg ou
pressão arterial diastólica ≥ 120 mmHg, ou se outra doença associada exija a
redução da pressão arterial (dissecção de aorta, infarto agudo do miocárdio,
edema pulmonar);
* Não administrar grande
volume de fluido a não ser em caso de hipotensão (em caso de necessidade,
utilizar soro fisiológico 0,9%);
* Utilizar antitérmico se
temperatura axilar > 37,5°C (Dipirona 1000 mg IV);
* Se atendimento no
pré-hospitalar fixo, acionar o serviço móvel de urgência o mais rápido possível
(SAMU 192 onde este estiver implantado) para transferência ao serviço
referenciado de atendimento ao paciente com AVC;
* Resgate pela ambulância no
domicílio ou nas unidades de pronto atendimento ou serviços 24h deve priorizar
o paciente com AVC;
* Notificar o hospital de
destino;
*
Levar o acompanhante (preferencialmente que tenha presenciado o inicio dos
sintomas) para o hospital;
Nas UPAs 24H e Atendimentos
24 horas, enquanto aguardam a remoção para o serviço referenciado para o AVC,
pacientes não candidatos à terapia trombolítica devem seguir as seguintes
orientações:
*Dieta suspensa até avaliação
da capacidade adequada de deglutição;
*No caso de não haver
possibilidade de transferência do paciente, realizar teste de triagem para
disfagia. Não havendo alteração ao teste, iniciar medicação oral e dieta
pastosa hipossódica, com cabeceira a 90 graus, sob supervisão;
*Antitérmico se temperatura
axilar (TAx) ≥ 37,5° C: Paracetamol 500 mg se via oral presente ou Dipirona
1000 mg IV se ausente;
*Administrar AAS 300mg VO uma
vez ao dia;
*Captopril 25 mg VO até 6/6
horas se PAS ≥ 220mmHg ou PAD ≥ 120 mmHg ou se outra condição clínica exigir controle
mais estreito;
*Hidratação
venosa à base de solução fisiológica a 0,9% IV contínuo (atenção ao volume
infundido em pacientes sabidamente cardiopatas .
A
escala de AVC do National Institute of
Health (NIHSS) apresenta uma versão adaptada para o português que é documentada
no protocolo,e que não é colocada no trabalho por motivos de concisão.
Outras duas escalas divulgadas na referida diretriz,como a de Rankin
Modificada(tabela 3) e o Índice de Barthel(tabela 4),são duas importantes
escalas que aferem graus de incapacitação do paciente após determinado evento
cerebrovascular,sendo úteis para avaliar tanto o resultado de uma abordagem
terapêutica ou de reabilitação,quanto para avaliar o progressão ou regressão
dessas patologias longitudinalmente.
Estudo
de Liesbet de Wit et al(Stroke 2007) faz
uma comparação da recuperação motora e funcional após AVC apresentada por
pacientes de 4 centros europeus de reabilitação: o objetivo do estudo foi
comparar os resultados de 4 centros de países da união européia e que tipo de
intervenção em cada localidade contribuiu para melhora funcional dos
pacientes(basicamente foram utilizadas escalas como índice de Barthel
e
a Rivermed Motor Assessment- presente em http://www.nottingham.
ac.uk/iwho/documents/rma.pdf-
para avaliação funcional e motora,respectivamente). O estudo conclui
basicamente que apesar da evidência de que centros organizados em “unidades de
AVC” melhorarem o resultado global ao
paciente,os conhecimentos técnicos de quais componentes desses cuidados são
mais eficientes ainda são limitados,e
mesmo dentro de um continente composto por sua maioria de países
desenvolvidos,existem diferenças significativas entre os signatários,sendo que
o resultado após análise estatística específica de 532 pacientes acompanhados
longitudinalmente nos tempos 0,2,4 e 6 meses após o evento demonstrou que a
recuperação motora “bruta” e “funcional global” foi melhor na Alemanha e na
Suíça do que na Inglaterra,e que os pacientes desses centros com melhores
resultados recebem “mais terapia dirigida à seqüela” por dia,resultado de uma
utilização mais eficiente dos recursos humanos.E conclui,relatando que essas
conclusões podem ser utilizadas por centros ingleses e belgas na melhoria dos
seus resultados.
AVCs HEMORRÁGICOS:
Hemorragia
Intraparenquimatosa(HIP):
Habitualmente,
o quadro clínico da HIP consiste de déficit neurológico focal de início súbito,
com alguma piora progressiva do quadro em poucas horas, associado à cefaléia intensa, náuseas e vômitos,
redução do nível de consciência e grandes elevações pressóricas arteriais.
Porém, em cerca de um terço dos pacientes,o auge dos sintomas pode ocorrer logo
no início do quadro. Os demais sintomas, apesar de consideravelmente mais freqüentes
na HIP do que no AVC isquêmico, não raramente podem se manifestar neste.Portanto,é
fundamental a realização de TC de crânio sem contraste para diferenciação de
ambas etiologias.
Uma angiografia
cerebral deve ser considerada nos pacientes jovens, normotensos, clinicamente
estáveis, sem causa clara para a hemorragia em questão.
A RM de
crânio em fase tardia pode ser útil no diagnóstico de pacientes normotensos com
angiografia normal e suspeita de cavernoma ou malformações arteriovenosas, que
sejam candidatos a intervenção.
Prescrição padrão inicial
– HIP
* Dieta oral
suspensa até avaliação formal da deglutição (preferencialmente por
fonoaudiólogo – SNE se impossibilidade de VO);
*
Monitoração contínua: PNI, ECG, SatO2: Atenção especial inicial deve ser dada a
patência de vias aéreas e ventilação. A intubação orotraqueal não deve ser
guiada somente por um determinado valor de corte da Escala de Coma de Glasgow,
mas por evidência de rebaixamento de consciência com claro sinal clínico de
insuficiência respiratória (pO2 < 60mmHg ou pCO2 > 50 mmHg), ou se
evidente risco de aspiração. Sedação adequada deve preceder o procedimento de
intubação independentemente do nível de consciência à admissão:
* Diurese:
12/12h;
* Cabeceira
elevada a 30º;
* Profilaxia
para TVP;
* Proteção
gástrica;
* Dipirona IV
se Tax > 37,5º: Como todo paciente neurológico grave, na HIP a hipertermia se
configura num importante preditor de mau prognóstico. Portanto, a monitoração
da temperatura axilar (2/2h) e o agressivo tratamento de temperatura superior a
37,5ºC são imprescindíveis;
* Bromoprida
(preferencialmente) ou Metoclopramida se náusea ou vômito;
*Anti-hipertensivo
conforme texto: Um importante fator de piora prognóstica é o controle
pressórico inadequado nas primeiras horas. Nas HIP, ao contrário do AVCi, não
há permissividade com níveis pressóricos muito elevados e o tratamento
anti-hipertensivo deve ser mais agressivo (devido ao maior risco de
resangramento precoce determinado pelos níveis tensionais elevados);
Protocolo anti-hipertensivo:
PAS > 200 ou PAM > 150mmHg: redução agressiva da PA com
medicação EV contínua e monitorização preferencialmente invasiva contínua (na
impossibilidade de monitorização invasiva , monitorar de forma intermitente a
cada 5 min);
PAS > 180 ou
PAM > 130mmHg com possibilidade de HIC(hipertensão intra-craniana): monitorização da PIC(Pressão
intra-craniana) e redução da PA usando medicações EV contínuas ou
intermitentes, mantendo a PPC ≥ 60mmHg(Pressão de perfusão cerebral);
PAS >180 ou PAM > 130mmHg sem evidencias
de HIC: reduções
menores da PA (PAM de 110mmHg ou 160 X 90mmHg) usando medicações EV contínuas
ou intermitentes, com reexame clínico do paciente a cada 15 min.
* Fenitoína
conforme texto: Os pacientes com história pregressa de crises epilépticas ou com
crise durante o atual evento devem receber anticonvulsivante em dose de
manutenção (Fenitoína 100mg 8/8h). Nos demais casos, não há indicação de
profilaxia com anticonvulsivantes.
* Hidratação venosa à base de SF
0,9%: O
uso de solução glicosada a 5% deve ser evitado, dando preferência ao soro
fisiológico a 0,9%, objetivando a euvolemia.
Tratamento cirúrgico da HIP: A
Hipertensão intracraniana é uma complicação freqüente na fase aguda da HIP e
deve-se atentar a esta possibilidade diagnóstica para monitorização e
tratamento adequado o mais breve possível. A monitoração da pressão
intracraniana (PIC) deve ser instituída nos pacientes com Glasgow < 9 ou com
rápida piora de pelo menos 2 pontos na mesma escala. Aqueles pacientes com
hematomas muito volumosos (supratentorial >10ml e infratentorial > 3ml)
ou hemoventrículo e com necessidade de sedação também podem ser candidatos a
monitoração da PIC(Pressão intracraniana).
O
objetivo da monitoração da PIC é mantê-la < 20 mmHg com pressão de perfusão
cerebral > 60 mmHg. O controle da HIC deve ser realizado sob protocolos
específicos visando à estrutura e familiaridade de cada serviço com as
estratégias terapêuticas.
Se a HIP for de origem
hipertensiva, em áreas não suspeitas da presença de aneurisma cerebral ou
devido à angiopatia amilóide, nos idosos, o tratamento ideal visa evitar o
sangramento contínuo, manejar adequadamente a PIC e programar o momento ideal da descompressão cirúrgica, que deve
ser considerada: em pacientes com
hemorragia cerebelar que vem piorando o quadro neurológico ou os que têm
compressão do tronco cerebral e/ou hidrocefalia por obstrução ventricular
(operar o mais breve possível), pacientes apresentando hematomas lobares supretentoriais
> 30ml, a menos de 1cm do córtex, hemorragia intracraniana associada à lesão
estrutural, pacientes jovens com moderadas ou grandes hemorragias lobares, que
estejam clinicamente deteriorando.
A
ventriculostomia com monitorização da
PIC intraventricular deve ser procedida nos casos de hidrocefalia aguda,
sem hematoma a ser drenado (hemorragias intraventriculares ou hemorragias de
tronco cerebral). Nos casos de sangramento em área suspeita de aneurisma
cerebral, proceder a exame de imagem para estudo vascular cerebral.
Estudo
de P Daverat et al(Stroke 1991) analisa
prospectivamente(tempo= 0 e 6 meses) 166 pacientes com hemorragia intracerebral
espontânea utilizando análise estatística multivariada nos seguintes desfechos
: morte e resultado funcional. Resumindo,desses 166 pacientes,51 morreram(31%
de mortalidade) após o primeiro mês do evento,enquanto 12% vieram a falecer
entre o primeiro e o sexto mês do evento.A severidade da hemorragia à
tomografia computadorizada e a presença de hemoventrículo,neste estudo,foram
associados a maiores taxas de mortalidade .A localização da hemorragia,o desvio
de linha média e o nível de consciência a apresentação são importantes fatores
preditores de mortalidade precoce,sobretudo quando combinados com o desfecho
“fator de massa”,sendo que a maioria dos estudos considera um hematoma com 50 a
100 ml de volume letal quando intra-parenquimatoso ou de 20 ml de volume letal
quando intra-ventricular.Já a mortalidade tardia neste estudo(entre 1 e 6
meses),após análise multivariada, apresenta a idade do paciente como o fator mais
relacionado a este desfecho,sendo a
idade maior ou igual a 69 anos relacionada a pior prognóstico(taxa de
sobrevivência de 43%),sendo nessa faixa etária mais comuns as complicações
de uma internação prolongada.Neste estudo, os pacientes sobreviventes,aos 6
meses de acompanhamento,tiveram um bom resultado funcional na média(72%
totalmente independentes); a análise multivariada demonstrou que os resultados
funcionais são dependentes da clínica e
achados à tomografia computadorizada na admissão,sendo que o risco de
resultado funcional insatisfatório aumenta com a idade(principalmente),localização da lesão,hemoventrículo,
paralisia de membro e desordens na
comunicação.O uso de derivação ventriculoperitoneal(DVP) ainda fica em aberto
em tal estudo( em casos de hemoventrículo), apesar do inegável impacto da
hemorragia ventricular em termos prognósticos.
Hemorragia Subaracnóidea(HSAe):
A
Hemorragia Subaracnóidea Espontânea (HSAe) é uma emergência médica com
elevadíssimas taxas de morbimortalidade. A causa mais comum é a ruptura de um
aneurisma cerebral. Classicamente, ela se manifesta com cefaléia aguda, de
início abrupto, súbito, explosivo, e de forte intensidade desde o início,
vômitos, rigidez de nuca e alteração do nível de consciência. O quadro clínico,
habitualmente, é muito exuberante não criando maiores dificuldades para se
considerar a hipótese diagnóstica. Porém, com certa freqüência, nos deparamos
com quadros menos exuberantes, sem alteração de consciência ou sinais
meníngeos, sendo que as queixas se restringem a uma cefaléia muito forte com
náuseas e por vezes vômitos. Assim, pode se assemelhar muito a crises
migranosas (enxaquecosas), o que pode levá-la a ser subdiagosticada. A forma
mais segura para se ter uma maior sensibilidade diagnóstica nestes casos
difíceis consiste em uma boa história do episódio de cefaléia, com especial
atenção a sua forma de instalação (súbita) e a sua intensidade (com grande freqüência
é referida como a cefaléia mais intensa da vida).
Diante
da suspeita de uma HSAe, deve-se proceder a uma tomografia de crânio sem
contaste em regime de urgência. Esta define o diagnóstico na grande maioria das
vezes. Porém, hemorragias discretas podem não ser visualizadas à TC crânio e,
nestes casos, uma punção lombar é recomendada.
Definido
o diagnóstico, o mais brevemente possível, deve se realizar uma angiografia
cerebral seletiva para documentar a presença e estudar a anatomia de aneurismas
cerebrais. Na impossibilidade de realização de uma angiografia em tempo hábil,
pode-se considerar uma angiotomografia ou angioressonância cerebrais.
Considerando que o resangramento
e o vasoespasmo
cerebral são o maiores determinantes de desfecho desfavorável, toda a
atenção deve ser dada para prevenir estas situações.
O vasoespasmo cerebral é uma condição muito freqüentemente associada
à HSAe e deve ser sistematicamente monitorado por meio de Doppler transcraniano
(DTC). O diagnóstico definitivo do vasoespasmo e sua quantificação são feito
por meio de angiografia cerebral, mas o DTC tem fundamental importância na
monitoração destes casos.
Prevenção e
tratamento do vasoespasmo cerebral:
* Nimodipino oral: 60mg, 4/4h (SNE);
* Evitar hipovolemia;
* Terapia dos 3 Hs (expansão de volume, indução de
hipertensão e hemodiluição);
*
Angioplastia cerebral e/ou uso de vasodilatador intra-arterial.
Medidas
para prevenir resangramento:
* Repouso absoluto;
*Pressão arterial deve ser
monitorada e controlada levando-se em conta o risco de resangramento e a
pressão de perfusão cerebral (PPC);
* Intervenção cirúrgica ou
embolização endovascular precoces do aneurisma roto:
Clipagem cirúrgica ou tratamento endovascular devem ser
realizados o mais precocemente possível para reduzir a taxa de resangramento de
aneurismas após HSAe. Aneurismas envoltos, revestidos, parcialmente clipados ou
embolizados tem risco aumentado de resangramento. Obliteração completa do aneurisma é o ideal, sempre que possível.Tratamento
precoce dos aneurismas reduz risco de resangramento e permite implementar
medidas anti-vasoespasmo cerebral.
Prescrição inicial – HSAe
* Dieta oral
suspensa até avaliação formal da deglutição (preferencialmente por
fonoaudiólogo – SNE se impossibilidade de VO);
* Monitoração
contínua: PA invasiva, ECG, SatO2;
* Diurese:
12/12h;
* Cabeceira
elevada a 30°C;
* Considerar
profilaxia para TVP;
* Proteção
gástrica;
* Dipirona IV
se Tax > 37,5ºC;
* Bromoprida
(preferencialmente) ou Metoclopramida se náusea ou vômito;
*
Anti-hipertensivo conforme texto;
* Fenitoína
100mg de 8/8h: A administração de anticonvulsivante profilático é recomendada
no período pós-hemorrágico imediato (por até três dias). O uso, em longo prazo,
só é recomendado nos indivíduos com maior risco (história de convulsões
prévias, hematomas intraparenquimatosos, isquemias ou aneurismas de artéria
cerebral média).
* Nimodipino
60mg de 4/4h;
* Hidratação venosa à base de SF
0,9%.
Estudo de Timour Al-Khindi et al(Stroke 2010) se
concentra em responder a seguinte questão: quais os resultados funcionais e
cognitivos após uma hemorragia subaracnóidea espontânea. O referido estudo
destaca que apesar do tratamento da hemorragia subaracnóidea espontânea ser bem
documentado,pouco ainda é conhecido sobre os efeitos a longo prazo da HSAe na
cognição e funcionamento diário. Foram revisados todos estudos num período de
dez anos (1990-2010) que se focaram nos desfechos anteriormente citados,sendo
incluídos 61 estudos empíricos. Concluiu-se após análise que os sobreviventes
do evento comumente experimentam déficits na memória,função executiva e
linguagem,e que essas circunstâncias afetam as atividades da vida
diária,retorno ao trabalho e qualidade de vida,os quais são variavelmente
acompanhados por ansiedade,depressão,fadiga crônica e distúrbios do sono.Os
autores reconhecem que muito tem que ser aprendido sobre a fisiopatologia
dessas alterações,e apontam que o melhor entendimento acerca do dano cerebral
difuso secundário ao sangramento subaracnóideo
e complicações secundárias deste como vasoespasmo e aumento da Pressão
Intra-Craniana(PIC) são fundamentais na busca do melhor controle desses danos
crônicos,melhorando as políticas de reabilitação.
3.3)Traumatismo
Crânio-Encefálico ou TCE (Referências: Livro-Oxford American Handbook of
Neurology; Artigos: 14,15 e 16).
É uma importante causa de morte(50%
das mortes) em pessoas com menos de 45 anos que sofrem algum evento traumático.
São associados a colisões veiculares e uso de álcool em metade dos casos,estando
os homens duas vezes mais envolvidos que as mulheres.A mortalidade no TCE
severo( Glasgow Coma Scale-GCS-menor que 9) é de 33%. Fisiopatologicamente,pode
haver no tecido cerebral compressão,estiramento e/ou cisalhamento;injúria axonal difusa(associada a
hemorragias petequiais em gânglios da base ou corpo caloso);hemorragia
intracerebral(hematomas subdural,epidural,hemorragia subaracnóidea traumática e
contusão cerebral); e até mesmo lesões secundárias tardias(mediadas por
aminoácidos excitatórios,aumentando a pressão intracraniana-PIC e diminuindo a
pressão de perfusão cerebral).
A avaliação da gravidade do trauma pode
ser feita pela Escala de Coma de Glasgow-GCS (leve-13 a 15 pontos na
GCS;moderado-9 a 12 na GCS;severo-3 a 8 pontos). Quanto menor a pontuação,maior
o risco de morte e seqüela grave,portanto,pior o prognóstico(GCS entre 3 e 5-
80% de risco de morte ou seqüela grave,enquanto GCS entre 9 e 13 o risco é de
15%). Paciente com GCS menor ou igual a 13 deve ser hospitalizado.
A avaliação inicial preconizada é a
mesma para os eventos traumáticos envolvendo outros sistemas do organismo,seguindo
uma ordem pré-definida que garanta na seguinte ordem: via aérea
pérvia,ventilação adequada e boa perfusão tecidual.Após estabilização desses
parâmetros,o paciente com evidências clínicas de traumatismo crânio-encefálico,como
GCS menor do que 15,déficits neurológicos focais,incluindo lesões piramidais,ou
então rinorréia,hemotímpano,equimose periorbital ou mastóidea ou até mesmo hiper-sensibilidade
cervical devem ter um manejo orientado para uma possível lesão crânio-encefálica.
O exame complementar indicado nessa situação é basicamente a Tomografia
Computadorizada de Crânio,que ajudará na identificação das lesões citadas na
fisiopatologia do TCE.
De acordo com o Guideline da Brain
Trauma Foundation todo paciente com TCE deve ser manejado inicialmente com as
seguintes medidas gerais,que
permitirão,se necessário,intervenções específicas ou intervencionistas mais
efetivas:
1)
Hipóxia
e pressão arterial: manter a saturação de oxigênio acima de 90 % (intubar o
paciente se GCS menor que 9 e severa lesão maxilo-facial) e a pressão arterial
sistólica acima de 90 mmHg(solução salina ou drogas vasoativas).
2)
Monitoração
da PIC: é recomendada para todos
pacientes com GCS menor que 9 e/ou tomografia de crânio anormal.A
ventriculostomia é a técnica preferida,com todos esforços para manter a pressão
intracraniana(PIC) menor que 20 mmHg.
3)
Agentes
Hiperosmolares: O Manitol é a droga de escolha para reduzir aumentos da PIC.
4)
Pressão
de perfusão cerebral: É a diferença entre a pressão arterial sistólica e a
PIC,sendo o alvo um valor entre 50 e 70 mmHg.
5)
Anticonvulsivantes:
Devem ser descontinuados 1 semana após o trauma,sendo que estas medicações não reduzem
o risco de epilepsia tardia(i.e,1 semana após o trauma) e nem melhoram o
prognóstico,evitando sim crises convulsivas no período peri-traumático.
6)
Hiperventilação:
A hiperventilação profilática piora o prognóstico,devendo apenas ser usada
temporariamente como uma ponte para algum tratamento específico.
Manejo
de lesões cerebrais específicas:
Lesões
traumáticas expansivas:Requerem
imediata avaliação e tratamento.Inicialmente,a compressão hemisférica cerebral
causa sinais focais contra-laterais(incluindo,as do trato piramidal),associado
a redução do nível de consciência e finalmente paralisia ipsilateral do 3º
nervo craniano(motricidade ocular extrínseca-trato corticonuclear) devido a
herniação uncal(lobo temporal mesial).Esta situação evolui para herniação
transtentorial causando descerebração(postura motora em rigidez) e ausência de
reflexos do tronco cerebral.Pode resultar também na resposta de
Cushing(bradicardia e hipertensão) e falsos sinais localizatórios ,como a
hemiplegia ipsilateral a lesão devido a compressão do pedúnculo cerebral do
tentório contra-lateral.
As lesões são classificadas
basicamente conforme seus achados à tomografia computadorizada de crânio,cada
qual apresentando suas características clínicas,manejo(clínico,expectante ou
cirúrgico) e prognóstico.Neste trabalho,não serão citadas as particularidades
de cada uma dessas lesões,por fugirem estas do escopo do projeto,embora mereçam ser mencionadas na sua individualidade:
hematoma epidural,hematoma subdural
agudo,hematoma subdural crônico,contusão cerebral,lesões cerebrais penetrantes,lesões
axonais difusas e fraturas de base de crânio.
A longo prazo,tais lesões podem vir a
se manifestar na forma de complicações
tardias ,como as vasculares(dissecções
arteriais vertebrais e carotídeas,aneurismas traumáticos,fístula
carotídea-cavernosa,hemorragia subdural crônica), infecções(abscesso cerebral,empiema epidural ou
subdural,meningite), epilepsia
traumática (maior incidência em pacientes com trauma severo), alterações em nervos cranianos (déficit
olfatório é o mais comum,podendo ocorrer vertigem,paresia e déficit sensitivo
facial -lesões do VIII,VII e V Nervo Craniano,respectivamente).
Conforme estudo de José Roberto Tude Melo et al(Arq
Neuropsiquiatr 2005), no qual foram
revisados 555 prontuários médicos de vítimas de trauma craniencefálico
,observou-se na análise multivariada ,que a faixa etária a partir da terceira
década de vida,vítimas de acidentes com meios de transporte e a presença de
febre foram fatores preditores de letalidade,sendo apenas a febre ,neste estudo,um fator de risco
independente e modificável de
morbiletalidade no traumatismo cranioencefálico.
Já o estudo de Venâncio Pereira Dantas Filho et al(Arq Neuropsiquiatr 2003) relata
que a busca de fatores prognósticos para o TCE tem sido alvo de muitos estudos
nas últimas décadas.Baseados num casuística de 206 pacientes com TCE grave(GCS
menor que 8),os autores estudaram a influência de vários fatores sobre a
evolução dos pacientes. Basicamente,os piores desfechos estiveram associados ao
nível de consciência inicial rebaixado, a presença de hipertensão
intra-craniana(PIC MAIOR que 20 mmHg),o tipo de lesão intra-craniana(lesão
axonal difusa,lesões transfixiantes) e a presença de hipóxia e hipotensão
arterial,e associação destas.
O estudo mais abrangente(disponível
online) sobre as seqüelas esperadas após
traumatismo crânio-encefálico moderado a grave com um tempo de acompanhamento
significativo(3 e 5 anos) provém de uma publicação da revista Archives
Physical Medicine and Rehabilitation por Sureyya S.Dikmen et al,em 2003.
Estes autores
da Universidade de Washington estudaram
os desfechos nas mais diversas áreas da saúde humana,entre elas o funcionamento
neuropsicológico,emocional,funcional e de qualidade de vida, de 210 pacientes com
TCE demonstrável radiologicamente acompanhados numa coorte observacional, com
um seguimento de 80%. Utilizando das mais diversas escalas(que não vêm ao caso
aqui) para medir tais desfechos ao longo do tempo,se concluiu após esse período
de acompanhamento que os pacientes sobreviventes experimentam significativas
limitações funcionais em todas as áreas,com recuperação completa de 65% dos
pacientes no quesito auto-cuidado,e 40% dos pacientes no quesito competências
cognitivas e retorno as atividades pré-lesionais(recreação,p.ex).Novamente,o
prejuízo ao nível de consciência mais do que a gravidade da lesão anatômica
parece trazer pior desempenho nas escalas aferidas.Finalmente,se conclui que a
magnitude das morbidades associadas ao TCE a longo prazo é elevada,com elevados
custos tanto para o paciente,quanto para os familiares e para o sistema de
saúde.
3.4) Mielopatias traumáticas e
não-traumáticas(fontes: *Oxford American HandBooK of Neurology,Spinal
Trauma; *Approach to acute or subacute myelopaty,Neurology Clinical Practice 2010,by Department of Neurology,Mayo
Clinic College of Medicine,Rochester;*Therapeutic interventions after spinal
cord injury, Nature Reviews,2006,by Sandrine Thuret,Lawrence D.F.Moon and Fred
H.Gage,retirado de www.nature.com/reviews/neuro).
Entende-se por mielopatia um processo patológico agudo envolvendo a medula
espinhal. Existem sinais clínicos que sugerem com forte grau de acurácia o
diagnóstico topográfico acima referido: presença
de nível sensorial no dorso, presença de achados focais medulares cruzados,como
déficit piramidal contra-lateral a um déficit espinotalâmico de dor e temparatura(i.e,anestesia
de um lado,paralisia de outro),déficit
sensitivo dissociativo(alteração na dor e temperatura-trato espinotalâmico
lateral-com preservação do sistema dorsal-lemnisco- medial-o qual recebe o tato,pressão,vibração,propriocepção
ou cinestesia e equilíbrio inconsciente-Romberg) e retenção urinária. Outros sinais clínicos são ditos
consistentes,mas necessariamente diagnósticos de mielopatia,tais como: perda
sensitiva em bota ou luva(diferenciar de neuropatia periférica),hiporreflexia
ou hipotonia(considerar neuropatia periférica),sinais unilaterais ou bilaterais
exclusivos do trato piramidal (considerar desordens do encéfalo ou tronco
cerebral).Já outros sinais clínicos sugerem
diagnósticos topográficos fora da medula espinhal: espasmos,ao invés de
espasticidade(síndrome da pessoa rígida),rigidez paratônica(considerar
desordens no lobo frontal),déficit cognitivo(considerar demências) e disartria
ou disfagia(considerar desordens do neurônio motor).
Quanto a etiologia(ou seja,a causa)
subjacente a síndrome em questão existem duas situações: pacientes com início recente de sintomas ,particularmente
naqueles que evoluem rapidamente,a prioridade
inicial é excluir uma emergência cirúrgica como uma metástase epidural ou abscesso.Quando o índice de suspeita
de comprometimento da medula for elevado,deve-se excluir imediatamente as
possibilidades anteriormente citadas por meio de RM de toda coluna. O manejo cirúrgico imediato de lesões como metástases
e abscessos previnem seqüelas neurológicas definitivas.
Quando nenhuma lesão compressiva é
identificada na ressonância magnética,pode-se estar diante de uma mielopatia dita então não-compressiva,a qual engloba as
seguintes entidades: desordens desmielinizantes(esclerose múltipla ou
neuromielite óptica),infarto medular,mielite parainfecciosa(enterovírus,Chlamydia,Mycoplasma,sífilis, HIV,tuberculose,herpes
vírus/zoster,esquistossomose,citomegalovirose)ou desordens inflamatórias
sistêmicas,como a síndrome de Sjögren ou Lúpus Eritematoso Sistêmico.Já o termo
mielite
transversa é reservada para casos radiologicamente definidos sem
etiologia confirmada evoluindo num curso de dias a semanas com estabilização ou
melhora neurológica. É expressão idiopática da mielite.É de difícil
diferenciação da etiologia parainfecciosa,sendo que a última só pode ser
confirmada com testes do sorológicos ou
liquóricos(PCR).
As mielopatias vasculares resultam de infarto secundário a embolismo,hipoperfusão,hemorragia,ou
mal-formação vascular associada com hipertensão venosa;um início abrupto,com
piora dentro de horas ou dias,sugere também este diagnóstico,bem como uma
síndrome medular espinhal anterior(afetando os tratos corticoespinhal e
espinotalâmico e poupando as colunas dorsais),embora também a esclerose
múltipla possa se apresentar da mesma forma. Já as mielopatias transversas ou parainfecciosas evoluem dentro de dias a
semanas,mas geralmente atingem um nadir dentro de 3 semanas,havendo melhora ou
estabilização após isso.Já as
mielopatias que evoluem após esse período de tempo(3 semanas ou mais) são
muito mais sugestivas de problemas como tumor medular intrínseco,processos
degenerativos(espondilose,estenose de canal),processos metabólicos(deficiência
de Vit B12 ou cobre) e sarcoidose(diagnóstico definitivo por biópsia,revelando
granuloma não caseoso ).Outras síndromes clínicas são lembradas no artigo da
Neurology: síndrome de Brown-Séquard
incompleta(perda de força e da sensibilidade térmica e álgica,dissociadas,contra-laterais
uma a outra) lembram a possibilidade de desmielinização ou compressão.Uma
síndrome de transeção total da medula envolvendo todos os tratos bilateralmente
lembra mais uma neuromielite óptica associada a mielite transversa(lesão
central,extensa à RM) ou uma compressão medular secundária a uma lesão
traumática.
A neuroimagem,particularmente a
Ressonância Magnética,é também de grande auxílio na diferenciação das diferentes
etiologias que levam a uma síndrome mielopática não-compressiva: hiperintensidade em imagens ponderadas T2 atingindo
menos de 3 segmentos vertebrais : lesões discretas que não ocupam a medula
espinhal em sua totalidade em cortes axiais são altamente sugestivas de
esclerose múltipla,sendo que a RM de crânio confirmará o diagnóstico ao
identificar uma ou mais lesões suspeitas(lesão periventricular
discreta,justacortical,ou infratentorial T2 hiperintensa),ainda mais se
associadas a bandas oligoclonais no líquor e aumento de IgG(ver critérios de
Mcdonald adiante); hiperintensidade em
imagens ponderadas T2 atingindo mais de 3 segmentos vertebrais(sinal medular
extenso): costuma ocorrer nas mielites transversas,neuromielite
óptica,infarto medular(lesão mais anteriorizada),e mielite associada com
doenças inflamatórias sistêmicas.
O tratamento das mielopatias não-traumáticas
é realizado através de um curso de 5 dias de corticoterapia(pulsoterapia com
metilprednisolona).
Mielopatias
traumáticas:
São divididas em lesões completas ou
incompletas,de acordo com a perda total ou parcial de função motora ou
sensitiva abaixo do nível da lesão.O nível medular é definido por gráficos de
dermátomos.
A gravidade da lesão medular é
avaliada pela escala da ASIA(American Spinal Injury Association Impairment
Scale).As principais categorias da escala são listadas abaixo: A(completa):
Nenhuma função motora ou sensorial é preservada tendo como referência os
segmentos sacrais S4-S5. B(incompleta):A função sensorial,mas não a motora, é preservada
abaixo de determinado nível e inclui os segmentos sacrais S4-S5. C(incompleta):
A função motora é preservada abaixo de determinado nível ,e mais da metade dos
principais músculos caudais a este nível tem força menor que 3. D(incompleta):
semelhante a categoria C,porém os músculos tem força maior ou igual a 3.
E(normal): Funções motoras e sensoriais são normais.A extensão do dano medular a
determinadas vértebras serve como referência para o tipo déficit neurológico
esperado: lesões na altura de C4 e C6 costumam produzir quadriplegia(déficits
em diferentes alturas) e lesões em T6 e L1 produzem paraplegia(déficits em
diferentes alturas).
O termo instabilidade medular é
definido como a perda do alinhamento medular anatômico sob cargas fisiológicas.
A estabilidade toracolombar é definida
pelo modelo de Denis de três colunas: coluna
anterior,representada pela metade anterior do corpo vertebral,anel fibroso
e ligamento longitudinal anterior; coluna
média, representada pela metade posterior do corpo vertebral , anel fibroso
e ligamento longitudinal posterior; coluna
posterior, composta por pedículos e lâminas,processos espinhosos e
ligamentos dorsais.A medula estará instável se dois desses elementos forem
desarticulados.
O tratamento da fase aguda de um trauma medular envolve os passo já
citados para o traumatismo crânio-encefálico,lembrando que muitas vezes ambas
lesões costuma estar associadas.As intervenções preventivas em toda e qualquer
trauma já em sua fase pré-hospitalar visam a redução de danos para uma possível
fratura cervical,isso através da colocação do paciente em macas
rígidas,rolamento em bloco e colar cervical.A lesão ou fratura vertebral só
pode ser excluída mediante Rx de coluna cervical,ou tomografia computadorizada(exame
mais específico para osso).A ressonância magnética é o exame de escolha para
estudo do comprometimento medular e ligamentar. O uso de corticóides na fase
aguda da mielopatia traumática(primeiras 8 horas) não é um consenso,além de
provocar aumento de complicações como
pneumonia e reações gastrointestinais.
A fixação cirúrgica ou ortopédica é
indicada conforme a altura da lesão,achados aos exames de imagem e grau de
comprometimento neurológico,sendo que essas condutas neurocirúrgicas ou ortopédicas
podem ser consultadas em livros da área,fugindo no momento do objetivo do
projeto.
Segundo revisão da Revista Nature (Therapeutic
interventions after Spinal Cord Injury,2006),não há até o momento uma terapia
restauradora para pacientes lesados medulares. Na revisão propriamente dita,os
autores focam na recuperação da função de membros afetados,os quais são os
desfechos mais estudados na literatura envolvendo estudos animais e testes
clínicos.Segundo o grupo,para identificar terapias que são inequivocamente
seguras e eficientes ,a comunidade científica internacional recomenda que
estudos pré-clínicos sejam reproduzidos por laboratórios independentes ,e que
os trabalhos clínicos tenham desfechos primários bem-definidos e utilizem de métodos de aferição/estatísticos que sejam
sensíveis o suficiente para detectar pequenos incrementos na função motora.
Em seguida,são revisadas estratégias
celulares e moleculares utilizadas por mais de um desses estudos e que propiciaram melhora da função,sendo que
muitas dessas estratégias resultaram em ensaios clínicos.Cada uma dessas
terapias potenciais a serem descritas abaixo podem produzir apenas pequenas
melhoras na função,e uma combinação destas pode ser necessária para melhora da
qualidade de vida diária.O próprio artigo salienta que os jornais médicos
especializados e a própria mídia precisam manter expectativas realistas em
torno do tema para evitar criar falsas esperanças para aqueles que vivem com
lesão medular.
Intervenções
terapêuticas celulares: O
transplante celular após traumatismo raquimedular tem os seguintes objetivos: preencher qualquer cisto ou cavidade formada,
repor células mortas(prover novos neurônios ou células mielinizadas) e criar um
ambiente favorável para regeneração celular.
Transplante de nervos periféricos:
Após lesão medular em ratos
adultos,o transplante autólogo de nervos periféricos permitiu alguma evidência
de crescimento de vários tipos de axônios,mas não de axônios
supra-espinhais.Enxertos de nervos periféricos,combinados a outras
terapias(drogas anti-inflamatórias,estabilização vertebral com placas e
parafusos,cola de fibrina e fator de crescimento de fibroblastos) promovem
recuperação com regeneração de axônios supra-espinhais dentro,através e além do
enxerto.Em estudos com humanos,existe a descrição de um paciente submetido a
tal terapia com modesta recuperação funcional.Esta intervenção não se mostrou
bem-sucedida em pessoas com lesão medular completa.Em função disso,outros
estudos devem ser realizados para permitir a indicação de tal terapia.
Transplante de células de Schwann:
Após transecção medular e aplicação dessas células
nervosas periféricas dentro de modelos animais,axônios sensoriais e espinhais
com corpos celulares próximos ao enxerto se estenderam dentro dessas “pontes”
,se tornaram mielinizadas e eletrofisiologicamente ativas.Após contusão e
implante de tais células,já foi reportado redução da cavitação e reimplante de
axônios sensitivos e motores dentro do enxerto,muitos dos quais remielinizaram.Atualmente,
ainda não foram executados ensaios clínicos envolvendo o transplante de células
de Schwann em humanos.
Transplante de células nervosas
olfatórias: Células
embrionárias ou do bulbo/mucosa olfatória adulta tem sido transplantadas após
lesão medular tanto em modelos animais como em testes com humanos.Recuperação
funcional e ou regeneração de axônios do sistema nervoso central tem sido
reportados quando tais células são transplantadas imediatamente ou após dois meses de lesão
medular induzida em ratos adultos.Essa técnica celular foi utilizada em estudos
com mais de 400 humanos em países como China,Portugal e Colombia;embora tais
ensaios clínicos tenham várias limitações do ponto de vista estatístico,sendo
difícil aferir a segurança e eficácia dessas intervenções, existem relatos de
melhora motora e sensitiva nessa modalidade terapêutica em uma subamostra de
pacientes.Porém,outro estudo independente envolvendo sete
pacientes,acompanhados no pré e pós-operatório,observou apenas complicações(incluindo
meningite),e nenhuma melhora funcional,não estando indicado em seres humanos
por esse grupo de autores.Ainda se torna necessário estabelecer,segundo os
autores do artigo,as condições ideais nas quais o transplante de células
olfatórias em lesados medulares sejam reprodutíveis em promover
plasticidade,regeneração,remielinização,neuroproteção e recuperação
funcional.Importantes questões a serem respondidas incluem qual a melhor fonte
de células(lâmina própria versus bulbo olfatório),idade das células(embrionárias
ou adultas) e a forma de enxertar as mesmas(por suspensão ou transferência
dentro da matriz celular).
Transplante de tecido embrionário do
Sistema Nervoso Central: Transplante intramedular de medula fetal foi testado em
pacientes com seringomielia,com obliteração cística em todos pacientes e sem
efeitos colaterais.Este tratamento em si não proporcionou melhora nos
resultados do tratamento padrão tanto
para seringomielia quanto para lesão medular.Outra dificuldade está na obtenção
de tecido fetal para transplante.
Transplante de células-tronco
embrionárias,células-tronco adultas ou produzidas por engenharia biomédica: Células progenitoras multipotentes podem
se diferenciar em vários tipos celulares,e as células-tronco podem se renovar
indefinidamente e se diferenciar em todos os tipos celulares.Três dos maiores
desafios na aplicação de tal terapia estão no controle da sobrevivência,integração
e diferenciação das células transplantadas.Estas células promovem recuperação
funcional pela reconstituição de circuitos destruídos,remielinizando axônios,e
aumentando a plasticidade neuronal.
O potencial de células-tronco fetais humanas em modelos animais de lesão medular
está atualmente sendo investigada,com diferenciação documentada destas em
oligodendrócitos e neurônios,e melhora motora. A abordagem mais atual é a
utilização de células progenitoras(tronco ou multipotentes) que tenham sido
pré-diferenciadas em uma linhagem neuronal desejada pré-transplante.O
transplante em ratos de precursores neuronais e gliais após contusão medular
melhora a função motora e vesical.O transplante desses precursores promove a
formação de células semelhantes a neurônios e células gliais,resultando no
“brotamento” de vias descendentes.Precursores de oligodendrócitos também tem
sido estudados,os quais quando transplantados em modelos animais após trauma
melhoram a remielinização e promovem a função motora.
Células-tronco
de adultos são também
consideradas para transplante,ainda mais que a utilização das células do
próprio paciente evita a rejeição e conflitos éticos(transplante de
células-tronco derivadas de embriões humanos envolve questões sociais,morais e
religiosas em função das circunstâncias que possibilitam um embrião ser
candidato a doação).Várias células adultas progenitoras tem sido implantadas em
modelos animais de lesão medular,desde células derivadas do sistema
olfatório,células-tronco da medula óssea ,células obtidas de cultura celular
neuronal medular ou do tronco cerebral,e também células-tronco derivadas da
derme.
A medula
óssea de adultos contém diferentes populações de células-tronco ,incluindo
as células-tronco hematopoiéticas e as células tronco mesenquimais.O transplante
dos grupos celulares acima descritos em modelos de roedores com lesão medular
produziu melhora funcional e melhora da marcha,respectivamente.Um pequeno
ensaio clínico foi realizado utilizando células-tronco mesenquimais via EV em 9
paciente com lesão espinal ,demonstrando apenas a ausência de complicações do
procedimento,com um paciente apresentando melhora na escala da ASIA(American
Spine Injury Association),mas sem evidência da viabilidade dessas lesões (exames
neurofisiológicos,etc),além da ausência de um grupo controle,o que o torna
menos impactante.
Já as células adultas neurais progenitoras,isoladas do giro denteado,zona
subventricular ou cordão espinhal,tem se mostrado multipotentes invitro e após
transplante no sistema nervoso central,conforme observado em estudos em ratos
adultos com lesões medulares,as quais sobreviveram ,migraram,se integraram no
tecido lesado,geraram oligodendrócitos maduros que mielinizaram axônios
lesados,e acabaram por promover alguma recuperação funcional nesses modelos
animais.Existem também as células-tronco neurais adultas da própria medula
lesada,as quais se estimuladas adequadamente(por fatores neurotróficos) irão
governar a proliferação,diferenciação e migração adequada do tecidos a serem
revitalizados,evitando da mesma forma o problema da rejeição e dos conflitos
éticos por serem de fonte endógena/autóloga.
A medula espinhal adulta lesada tem
um microambiente pobre para a sobrevivência celular,diferenciação neuronal e
maturação.Portanto,para aprimorar a capacidade das células-tronco em atuar em
tais modelos experimentais,cientistas iniciaram a engenhar células-tronco em
laboratório com propriedades de diferenciação e maturação específicas.Uma
dessas técnicas é a modificação genética das células-tronco para hiperexpressar
a proteína BCL2(anti-apoptose) ou expressar a molécula de adesão celular L1,sendo
que esta última está associada a melhor interdigitação com axônios
corticoespinhais que se estendem muitas vezes através da região de lesão.
Aspectos
técnicos das terapias celulares: Em função do transplante de células ou tecidos autólogos
não requerer imunossupressão para escapar a rejeição imune,elas representam uma
opção terapêutica atrativa.O nervo safeno pode ser uma boa fonte de enxerto
autólogo de nervo periférico ou células de Schwann em função de ocorrer apenas
um pequeno déficit sensitivo na extremidade inferior da perna com a sua
retirada.A mucosa olfatória é mais acessível que o bulbo olfatório para o
transplante autólogo em humanos.Suspensões celulares podem ser transplantadas
dentro dos cistos,regiões perilesionais ou cavidades desenvolvidas tardiamente
na medula espinhal lesionada.Enxertos de tecido nervoso provavelmente são mais
adequados para lesões de formato regular ou com orifício externo(meio de
permeio).Vias de administração das terapias celulares menos invasivas ainda
incluem a punção lombar(simplicidade e baixo custo).
O potencial protetor ou reparador do
transplante de determinado tipo celular pode ser estabelecido somente se forem
utilizados controles de outro tipo celular.Considerando as lesões medulares completas,apenas
uma pequena melhora funcional é observada,independente do tipo celular
transplantado.A sustentação apendicular(e do peso corporal) efetiva de modelos
animais lesados medulares transplantados é hoje uma meta ainda não atingida
pela ciência.
As terapias moleculares são uma outra
opção disponibilizada pela medicina na tentativa de proteger neurônios da morte
celular secundária,promover crescimento axonal e condução nervosa.Fatores de
crescimento diversos,AMPc e GTPases,moduladores dos inibidores da mielina e
modificadores da matriz extracelular são algumas dessas moléculas que ao
interagirem com o tecido lesado ajudam na promoção da regeneração celular.Transportadores dessas
moléculas ao alvo medular vem sido testadas,e particularmente interessante é o
trofismo de um vírus reconhecido pela sigla AAV de atingir a medula,mais
especificamente os neurônios motores, quando injetado via intra-muscular.Outra
oportunidade de pesquisa citada no artigo é a avaliação do tipo de receptor
existente em determinado trato de axônios a serem regenerados,especificando
assim o tipo de neurotrofina a ser utilizada.
Muitos desses testes pré-clínicos
citados não tem se mostrado seguros e eficientes por mais de um laboratório
independente.A reprodutibilidade dos resultados é extremamente desejável para que se verifique a aplicação geral das
terapias.Antes que as mesmas sejam testadas em seres humanos,as terapias em
potencial devem ser reproduzidas em modelos que a aproximem da lesão
naturalmente produzida pelo trauma em humanos: traumas acidentais em cachorros
bem como lesões cirúrgicas em primatas ,podem ser utilizadas.A importância dos
testes pré-clínicos nesses modelos animais reside na possibilidade de efeitos
adversos da terapia a ser testada serem antecipadamente registrados: mudanças
na nocicepção,disreflexia autonômica,e espasticidade devem ser evitadas,bem
como não devem interferir na cicatrização ou recuperação funcional espontânea
que pode ocorrer.Há relativamente poucos estudos que reportam melhora com
intervenção após 1 mês do trauma raquimedular,e,destes,muitos falham em
detectar melhoras no crescimento axonal ou recuperação funcional.Além do mais,são
poucos os estudos que medem a estabilidade dessa recuperação por 2 ou 3 meses.
Aspectos
éticos: As
células-tronco podem ser coletadas em três diferentes estágios de
desenvolvimento: camada de células
internas derivada de blastócitos maduros; do encéfalo,medula espinhal,sistema
olfatório,medula óssea ou cordão umbilical do feto; do encéfalo,medula
espinhal,sistema olfatório,medula óssea ou sangue do próprio adulto.Cada uma
dessas populações celulares podem ser replicadas em cultura celular ou
engenhadas para produzir determinada molécula de interesse.As células da
medula-óssea humana também tem sido alvo de profundo interesse em função de sua
características de diferenciação celular(presença de
células-tronco/progenitoras),as quais são atrativas para o tratamento de lesão
medular,pois existem evidências que as mesmas podem se diferenciar em neurônios
e células gliais(potencial de transdiferenciação).Não está ainda muito claro se
as células estromais derivadas da medula tem o mesmo potencial de transplante
autólogo que as células de Schwann o têm,embora ambas as classes celulares
possam ser facilmente obtidas,expandidas em cultura e utilizadas em modelos
experimentais.O maior problema ético envolvido na obtenção desses materiais
reside na utilização de embriões humanos para fins de pesquisa.Outra questão
pertinente é a escolha de controles humanos
quando se pensa em avaliar determinada terapia: os controles percebem
que não estão sendo submetidos a nenhum procedimento e estão sendo privados de
uma potencial “cura” para seu problema médico,o que por si só é antiético,muito
embora estudos sem um grupo controle interfiram na qualidade da pesquisa.
3.5)
Esclerose Múltipla(fonte:
Protocolos Clínicos e Diretrizes terapêuticas do Ministério da Saúde,2010,e o
artigo “Esclerose Múltipla,Estudo descritivo de suas formas clínicas em 302
casos,Arquivos de Neuropsiquiatria,2000,por Marcos Aurélio Moreira et al):
A
Esclerose múltipla (EM) é uma doença auto-imune que acomete o sistema nervoso
central (SNC), mais especificamente a substância branca, causando
desmielinização e inflamação. Afeta usualmente adultos na faixa de 18-55 anos
de idade, mas casos fora destes limites têm ocorrido. No Brasil, sua taxa de
prevalência é de aproximadamente 15 casos por cada 100.000 habitantes.
Há quatro
formas de evolução clínica: remitente-recorrente
(EM-RR), primariamente progressiva (EM-PP), primariamente progressiva com surto
(EM-PP com surto) e secundariamente progressiva (EM-SP). A forma mais comum
é a EM-RR, representando 85% de todos os casos no início de sua apresentação. A
forma EM-SP é uma evolução natural da forma EM-RR em 50% dos casos após 10 anos
do diagnóstico (em casos sem tratamento – história natural). As formas EM-PP e
EM-PP com surto perfazem 10%-15% de todos os casos. O quadro clínico se manifesta, na
maior parte das vezes, por surtos ou ataques agudos, podendo entrar em remissão
de forma espontânea ou com o uso de corticosteróides (pulsoterapia). Os
sintomas mais comuns são neurite óptica,
paresia ou parestesia de membros, disfunções da coordenação e equilíbrio,
mielites, disfunções esfincterianas e disfunções cognitivo-comportamentais,
de forma isolada ou em combinação.
O
diagnóstico é baseado nos Critérios de
McDonald revisados, sendo o diagnóstico diferencial bastante amplo e
complexo. Estes critérios são os adotados pela comunidade científica mundial
para o diagnóstico de esclerose múltipla.
Ressonância
magnética (RM) do encéfalo demonstrará lesões características de
desmielinização; devem ser realizados alguns exames laboratoriais (exames de
anti-HIV e VDRL e dosagem sérica de vitamina B12) no sentido de excluir outras
doenças de apresentação semelhante à EM.
O exame do
líquor será exigido apenas no sentido de afastar outras doenças quando houver
dúvida diagnóstica (por exemplo, suspeita de neurolues, ou seja, VDRL positivo
no sangue e manifestação neurológica). O Potencial Evocado Visual também será
exigido apenas quando houver dúvidas quanto ao envolvimento do nervo óptico
pela doença.
Lesão
desmielinizante medular à RM de coluna pode ser considerada equivalente a uma
lesão infratentorial para fins diagnósticos de EM;lesões medulares podem ser
associadas às lesões encefálicas para totalizar o número mínimo de lesões em
T2.A necessidade de o paciente apresentar 2 surtos para o diagnóstico
atualmente pode ser substituído por 1 surto associado à progressão de lesões à
RM(novas lesões ou surgimento de impregnação pelo gadolínio em lesões
anteriormente não impregnadas,ou aumento do tamanho de lesões prévias),após o
primeiro surto.
Atentar
para os casos que caracterizam a “síndrome
clínica isolada de alto risco para conversão em EM”: Definição clínica que
se refere a pacientes com o primeiro surto sugestivo de EM,sem fechar todos os
critérios diagnósticos atuais da doença,mas que possuam ao menos duas lesões
típicas de EM à RM cerebral(ovaladas,medindo ao menos 3mm,periventricular ou
infratentorial).Nesta situação,o paciente deverá ser investigado para os
diversos diagnósticos diferenciais,incluindo outras doenças auto-imunes que
acometem o sistema nervoso central,doenças paraneoplásicas e infecções crônicas
do Sistema Nervoso Central.Há necessidade de demonstrar disseminação no espaço
e no tempo para o diagnóstico de EM ser feito nessas situações: a primeira,com
o preenchimento dos critérios de Barkhoff ou RM com pelo menos duas lesões
sugestivas de EM e líquor positivo(bandas oligoclonais);já a segunda forma de
disseminação,deverá haver um segundo surto(pelo menos 30 dias após o surto
inicial) ou RM com nova lesão em T2(30 dias de intervalo) ou nova impregnação
por gadolíneo em T2(3 meses de intervalo).Assim,o referido protocolo recomenda
que todo paciente que apresentar um único surto da doença deva primeiro ser
acompanhado com RM de crânio a cada 3-6 meses.Disseminação no tempo ou espaço
após primeiro surto permite o diagnóstico e tratamento adequado.
O
tratamento é preconizado apenas para as formas EM-RR e EM-SP, pois não há
evidência de benefício para as demais. O tratamento inicial deve ser feito com
uma das opções dentre o glatirâmer e as betainterferonas (1a ou 1b), que são
igualmente eficazes no controle das recidivas.
Fazendo o
diagnóstico e iniciando o tratamento,o paciente deverá ser acompanhado pela Expanded Disability Status Scale-EDSS ,a
qual é a escala mais difundida para avaliação da EM.Possui vinte itens,com
pontuação de 0 a 10.A escala completa pode ser consultada no referido
protocolo,sendo neste trabalho anexados os itens referentes ao acometimento do
sistema motor:
3.6)
Espasticidade(fontes: Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde,Espasticidade,2009; Projeto Diretrizes-Espasticidade,Tratamento Medicamentoso e Cirúrgico,de autoria da
Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação,2006;Artigo: Tratamento
cirúrgico da espasticidade,Seção aprendendo,Manoel Jacobsen Teixeira,Revista
Med(São Paulo- 2004).
É
um distúrbio motor caracterizado pelo aumento do tônus muscular(p.ex,sinal do
canivete,com tônus aumentado no início da movimentação passiva),associado à
exacerbação do reflexo miotático.As principais causas são o acidente vascular
encefálico,traumatismo crânio-encefálico e traumatismo raquimedular nos
adultos; e paralisia cerebral nas crianças.É,resumindo,a hipertonia
elástica/espástica secundária a lesão do primeiro neurônio discutida nesse
trabalho,compondo parte da síndrome do neurônio motor superior. Suas conseqüências
são: redução da capacidade funcional,limitação da amplitude de movimento
articular,desencadeamento de dor,contratura
e rigidez frente à estimulação sensitiva ou estiramento passivo,luxações e
deformidades articulares, aumento do gasto energético metabólico e prejuízo nas
atividades diárias. Por outro lado,o aumento do tônus muscular pode
contribuir para estabilização articular e melhora postural. Portanto,é uma
condição a ser modulada e não completamente eliminada.
O
diagnóstico é clínico.Ao exame físico,o médico gradua o tônus muscular segundo
a escala de Ashworth modificada(tabela 2),instrumento mais utilizado nos
desfechos clínicos da literatura.A escala apresenta 5 categorias que variam do
tônus normal à rigidez ,conforme a resistência muscular contra a movimentação
passiva do(s) segmento(s) afetado(s).Tão importante quanto o diagnóstico da
espasticidade é avaliar seu impacto na função motora global,na dor,no
desenvolvimento de contraturas e deformidades osteomusculoarticulares.A partir dessas
informações,o plano terapêutico deve ser estabelecido.
Tratamento:
O tratamento
efetivo da espasticidade é um exemplo prático da importância da organização de
um serviço de reabilitação que conte com uma equipe multidisciplinar composta
por fisiatras,neurologistas,neurocirurgiões,ortopedistas,urologistas,cirurgiões
plásticos,proctologistas,psiquiatras,psicólogos,enfermeiros e fisioterapeutas.A
eliminação das causas (tumores,infecções,distorções,discinesias
viscerais,artropatias e dor) que comprometem a via motora e a eliminação de
fatores desencadeantes (escaras,infecções,discinesias
viscerais,dor,artropatia) é a primeira etapa do tratamento.
O tratamento medicamentoso sistêmico
consiste do uso de miorrelaxantes ; o
baclofeno e os diazepínicos são os mais utilizados. O baclofeno é um
agonista GABA presente nos neurônios inibitórios que diminuem a atividade das
vias excitatórias mediada por neurotransmissores como o glutamato ou ácido
aspártico.É eficaz no tratamento das
crises espásticas e da dor(atuando também nas disfunções viscerais),embora não
apresente efeito sobre hiper-reflexia,clônus,nem sobre as funções de
deambulação e atividades da vida diária. Os diazepínicos ligam-se ao
complexo GABA e apresentam ação prolongada,sendo indicados principalmente em
casos de hipertonia costante,sendo de
eficácia semelhante ao baclofeno,mas seu uso é limitado pelos efeitos
colaterais relacionados à depressão do SNC.
Outros anti-espásticos são menos
utilizados,podendo-se citar- tizanidina
e clonidina (agonista @-2;diminuem os reflexos pelo decréscimo de
neurotransmissores medulares excitatórios pré-sinápticos),piracetam(análogo do Gaba),gabapentina(anticonvulsivante
que reduz a espasticidade em pacientes com esclerose múltipla e lesão medular,além
de reduzir a dor de origem central),entre outros.
Os medicamentos
usados no tratamento sistêmico da espasticidade,por meio de seus diferentes
mecanismos de ação,têm como resultado um decréscimo na excitabilidade dos
reflexos medulares.A revisão das publicações científicas acerca do tema mostra
apenas resultados referentes a redução do reflexo de estiramento,sem muitas
preocupações sobre os resultados funcionais,embora se saiba que as drogas
aumentem o conforto,a mobilidade passiva,mas acabem por piorar a motricidade
ativa.Além disso, há poucos trabalhos que comparem os efeitos das drogas
anti-espásticas entre si,não se podendo afirmar sobre a superioridade de uma em
relação a outra.
Neurólise com toxina botulínica(ver condições de
liberação da medicação no protocolo clínico citado):
Segundo
o protocolo clínico do ministério da saúde relacionado ao assunto,serão
incluídos no protocolo de tratamento com toxina botulínica os portadores de
espasticidade que apresentarem os seguintes diagnósticos(paraplegia espástica
tropical,paralisia cerebral espástica,hemiplegia espástica,paraplegia
espástica,tetraplegia espástica e todos formas de seqüela de AVC),junto a
comprometimento funcional,dor ou risco de estabelecimento de deformidades
osteomusculoarticulares e que necessariamente estejam inseridos em programa de
reabilitação onde paciente,familiar ou cuidador seja capaz de assegurar o
seguimento do tratamento.Não está recomendado seu uso em quadros de
espasticidade generalizada.Novamente,os fatores de exacerbação do tônus
muscular,como infecções,úlceras de pressão,órteses mal-adaptadas, ou outras
complicações clínicas,devem ser afastados ou manejados concomitantemente.
Farmacologicamente,
a toxina botulínica é uma
neurotoxina,produzida pela bactéria Clostridium
botulinum,que bloqueia a liberação de acetilcolina,principal
neurotransmissor da placa motora,com conseqüente bloqueio neuromuscular.Existem três apresentações comerciais da
toxina botulínica aprovadas para o tratamento da espasticidade pela ANVISA(TBA
tipo 1,2 e 3),que embora sejam da mesma classe,diferem em seu comportamento
farmacocinético(1 U de TBA-1=1 U de TBA-3=3 ou 4U de TBA-2). A TBA é injetada por via intramuscular.A
aplicação deve ser realizada por médico
devidamente capacitado,sendo a dose total por sessão de tratamento dividida
entre os músculos selecionados afetados.A determinação das doses baseia-se em
bulas oficiais considerando a intensidade da espasticidade,no comprometimento
funcional,no peso corporal e no tamanho e número de músculos a serem tratados.Deve-se
seguir as seguintes recomendações para manutenção da resposta terapêutica a
longo prazo: utilizar a menor dose eficaz estimada em cada aplicação;respeitar
o intervalo mínimo de 3 a 4 meses entre as aplicações;prolongar o máximo
possível o intervalo entre as reaplicações.A duração do efeito é variável e
influenciada por outras medidas antiespásticas, como uso de medicamentos por
via oral,órteses e realização de fisioterapia.Recomenda-se a reavaliação em 4 a
6 semanas após cada aplicação,sendo as demais realizadas a critério médico.Após
um determinado número de aplicações,o efeito pode se tornar mais fraco ou
ausente,mesmo com um aumento de dose,levando a suspeita de formação de
anticorpos contra toxina botulínica.A
revisão de literatura através de metanálises,revisões sistemáticas e ensaios
clínicos randomizados duplo-cego controlados demonstrou em 13 estudos
envolvendo 5000 pacientes,que TBA é eficaz e segura na redução da
espasticidade. Os efeitos adversos mais freqüentes são sintomas locais,como
dor,hematoma,infecção local,atrofia,fraqueza muscular,cansaço,fraqueza
generalizada,prurido e reações alérgicas; na maioria dos casos são
auto-limitados.
Procedimentos
cirúrgicos:
Podem ser
ablativos ou moduladores e realizados sobre o Sistema Nervoso Central ou
Periférico.
Neuromoduladores
É a infusão de fármacos no compartimento
liquórico espinal.A infusão intratecal de miorrelaxantes é indicada em doentes
com atividade motora útil e quando a medicação administrada por via oral não é
tolerada ou eficaz. Baclofeno,tizanidina,midazolam,clonidina
ou morfina e derivados administrados por via intratecal exercem efeito
miorrelaxante e analgésico.
O baclofeno
intratecal está indicado nos casos de espasticidade grave,de
origem medular(traumatismos raquimedulares,esclerose múltipla) ou
cerebral(paralisia cerebral,traumatismos cranioencefálicos,doenças
cerebrovasculares) ,que não apresentam boa resposta a medicação oral e medidas
de tratamento de reabilitação.Antes da indicação do tratamento definitivo por
meio de técnica neurocirúrgica específica para implantação da bomba de infusão(contínua a gás,diafragmas de elastômeros
distensíveis ou bomba de infusão programável),o paciente é submetido a um
teste terapêutico através de um punção lombar,que permitirá uma avaliação
prévia do resultado.O efeito é avaliado por meio das escalas de
espasticidade,observando se houve melhora da função,o que determinará o
tratamento definitivo. Os resultados são animadores: na espasticidade medular(melhora em mais de 90% dos pacientes quando
avaliados nas escalas de Ashworth e de número de espasmos,melhora da
espasticidade vesical com diminuição do número de infecções urinárias e melhora
da qualidade de vida) e na espasticidade
cerebral(melhora de aproximadamente 75% da espasticidade,melhora da
distonia quando associada a paralisia cerebral,diminui em mais de 50% o número
de procedimentos cirúrgicos ortopédicos,melhora da velocidade da marcha e da
mobilidade funcional em pacientes vítimas de AVC e finalmente melhor qualidade
de vida).
A morfina
intra-tecal inibe os reflexos polissinápticos na medula espinal por meio de
sua ação nos receptores opiáceos. A morfina intratecal tem demonstrado melhora
da dor e na espasticidade em pacientes com lesão medular.Causa
tolerância,devendo ser reservada a pacientes com contra-indicação ao
baclofeno,mas pode ser associada a este na melhora funcional dos pacientes mais
refratários.
Neuroablativos:
Rizotomia
dorsal Seletiva(RDS): A cirurgia
é realizado por meio de uma laminectomia,com exposição das raízes dorsais de L2
a S1 na cauda eqüina e no cone medular ,estimulação elétrica das mesmas e lesão
seletiva daquelas que apresentam resposta exagerada(respostas
tetânica,clônus,contração em músculos no membro contra-lateral).De 25% a 50%
das raízes são usualmente cortadas.Está indicada nos casos de espasticidade
grave refratária aos tratamentos menos invasivos.Pode ser realizada em tetra ou
paraparéticos e,em especial,em pacientes com paralisia cerebral.Os resultados
mostram melhora significativa da espasticidade em membros inferiores e em
membros superiores,mesmo o procedimento sendo realizado apenas em raízes
lombares.O procedimento pode também ser realizados em raízes cervicais,estando
indicado em casos de espasticidade grave,principalmente do bíceps e flexores do
punho e dedos,visando muito mais evitar contraturas e melhorias das condições
de higiene. A RDS apresenta como
vantagem o baixo custo,não sendo necessário controles neurocirúrgicos subseqüentes.Como
desvantagem,é um método cirúrgico ablativo,irreversível,que não permite ajuste
e não atua na distonia.
Neurotomia
Periférica(Secção Mecânica ou Percutânea por Radiofrequência): Indicada principalmente para nervos motores,a
neurotomia periférica consiste em realizar uma lesão cirúrgica ou percutânea por
radiofreqüência no nervo alvo,visando a diminuição da espasticidade por
enfraquecer a contração do músculo tratado,sendo,portanto,mais indicada para o
tratamento da espasticidade focal.Por exemplo,a neurotomia do nervo tibial
posterior(visando os flexores plantares),a neurotomia do nervo
obturador(visando os adutores do quadril) e a neurotomia do nervo
musculocutâneo(visando os flexores do cotovelo).
Mielotomia:
Procedimento idealizado por Bischof,em
1951,consiste em separar a medula espinal longitudinalmente em anterior e
posterior,entre os segmentos L1 e L5,reduzindo a espasticidade pela interrupção
do arco reflexo medular na substância cinzenta da medula. A mielotomia deve ser
considerada somente para os casos refratários a todas as outras formas de
tratamento menos agressivo,ou na impossibilidade de realização
deste.Procedimento irreversível,pode ter como efeito indesejável uma perda
permanente das funções vesical e intestinal.
Casuística e métodos:
Casuística:
Serão analisados os prontuários de pacientes com
diagnóstico etiológico de neoplasias do sistema nervoso central,acidente
vascular cerebral,traumatismo cranioencefálico,esclerose múltipla e mielopatias,atendidos
no período de (a ser definido) no ambulatório de neurologia geral do HUSM e
setores correlatos,os quais possuam repercussões mensuráveis no sistema motor
central. Não serão excluídos pacientes sem avaliações precisas do grau de
disfunção motora através de tabelas padronizadas(ver tabelas),desde que haja
correlação clínica-radiológica.
Métodos:
Os dados documentados rotineiramente
nos prontuários incluem:
a)História clínica, incluindo dados
demográficos, características
temporais e a presença de déficits
não-motores compondo o quadro;
b)Exame geral e neurológico;
c)Resultados de exames complementares;
d)Diagnóstico etiológico,sindrômico e
topográfico.
e)Tratamento oferecido,evolução do
paciente e situação funcional do mesmo na consulta mais recente.
f)Modalidades de reabilitação e de
prevenção secundária oferecidas.
Estas informações serão coletadas de
forma sistemática, num protocolo
padrão (Anexo 1)
e serão analisados por programas voltados para esses fins,como o Epi Info.Após
a coleta de dados,e finalização da fase transversal,será elaborado um segundo
protocolo para consultas de seguimento(fase longitudinal),o qual basear-se-á nos resultados do trabalho
transversal/prevalência,de suas conclusões e de eventuais novas políticas públicas
positivas implementadas(seja em prevenção primária,abordagens diagnósticas
anteriormente não disponíveis,novas opções terapêuticas e de reabilitação com a
vinda de novos serviços,além da prevenção secundária).
Aspectos éticos(Retirado
de www.ufsm.br/cep)
Os termos abaixo serão submetidos à Comissão de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Santa Maria/HCAA/HCAB. Uma
carta de aprovação da Comissão de Ética será obtida antes do início do estudo.
Esse levantamento de dados trará como benefício ao paciente um melhor
esclarecimento de sua patologia e a possibilidade de um tratamento mais
adequado.
Termo de confidencialidade:
Termo elaborado pelo pesquisador responsável nas situações de
impossibilidade de obtenção do termo de consentimento informado dos sujeitos de
pesquisa. Utilizado nas pesquisas de bases de dados, de registros de
prontuários e de pesquisas com material biológico.
Consentimento
livre e esclarecido:
Será informado a cada participante, oralmente e por
escrito, a natureza, objetivo e duração, condições de participação e término do
estudo. Antes do começo da pesquisa os participantes assinarão um termo de
consentimento livre e esclarecido para participarem do estudo. Os
signatários serão previamente esclarecidos sobre o sigilo em relação à fonte
das informações e posteriormente identificados apenas por um número.
Tabela 1
Escala de
avaliação da força muscular:
0 -Sem contração (paralisia total).
1 -Contração muscular visível ou palpável sem
movimentação.
2 -Movimento ativo com eliminação da gravidade.
3 -Movimento ativo contra gravidade.
4 -Movimento ativo contra a gravidade e
resistência.
5 -Força normal.
Tabela 2
Escala de
espasticidade muscular(Ashworth modificada):
0 -nenhum
aumento no tônus muscular;
1 -leve aumento do tônus muscular, manifestado
por uma tensão momentânea ou por resistência mínima, no final da amplitude de
movimento articular (ADM), quando a região é movida em flexão ou extensão;
1+ -leve aumento do tônus muscular, manifestado
por tensão abrupta, seguida de resistência mínima em menos da metade da ADM
restante;
2 -aumento mais marcante do tônus muscular,
durante a maior parte da ADM, mas a
região é movida facilmente;
3 -considerável aumento do tônus muscular, o
movimento passivo é difícil;
4 -parte afetada rígida em flexão ou extensão.
Tabela 3
Escala de
Rankin Modificada: A ERM é uma
escala de incapacitação utilizada também para prognóstico funcional global. Na
opinião de alguns autores poderia ser utilizada para avaliação de desvantagem
(“handicap”).Sua pontuação é de 0 a 6. Se o paciente for incapaz de dar
respostas confiáveis, utilizar cuidador para responder.
0.Sem
sintomas.
1.Sem
incapacitação significativa apesar dos sintomas; capaz de realizar todas as
suas atividades e deveres habituais.
2.Incapacitação
leve; incapaz de realizar todas as atividades prévias mas apto a cuidar de si
sem necessitar de auxílio.
3.Incapacitação moderada; necessita de alguma ajuda
mas está apto a caminhar sem auxílio.
4. Incapacitação moderadamente
severa; incapaz de caminhar sem assistência e incapaz de atender às
necessidades corporais próprias sem auxílio.
5.Incapacitação
severa; restrito ao leito, incontinente e necessitando constantes cuidados e
atenção.
6.Morte.
Tabela
4
Índice de Barthel(IB):É uma escala que avalia incapacitação. O IB mede 10 funções:
7 itens de autonomia e 3 de mobilidade. Sua pontuação varia de 0 (totalmente
dependente) à 100 (independente). Se o paciente for incapaz de dar respostas
confiáveis, utilizar cuidador para responder.Por motivos de concisão,a mesma
será apenas consultada em livros-textos da área quando for utilizada.
Referências bibliográficas (livros-textos e
artigos de periódicos)
Livros e protocolos
1)Duus,Diagnóstico topográfico em neurologia,por
M.Baehr e M.Frotscher,4ª edição,Guanabara Koogan,2008.
2)Neurologia e Neurocirurgia: A prática clínica e cirúrgica por meio
de casos clínicos,coordenado por Eliova Zukerman e Reynaldo Brandt,Manole,2011.
3)Rotinas em Neurologia e
Neurocirurgia,organizado por Márcia L.F.Chaves,Alessandro Finkelsztejn e Marco
Antonio Stefani,Artmed Editora,2009.
4)Em busca da memória: o nascimento de uma nova ciência da
mente,Biografia de Eric R.Kandel,Companhia das letras,2009.
*Oxford American Handbook of Neurology,Edited by Sid Gilman,with Hadi
Manji [ET AL],First Published 2010.
*Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas do
Ministério da Saúde: Linhas de cuidados em AVC nas redes de atenção à urgência
e emergência,2012; Esclerose Múltipla,2010;Espasticidade,2009;
*Guia de neuroreabilitação- retirado de www.sarah.br.
Artigos
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Arthuis, A Bitar, J-P Sichez, R Van Effenterre e L.Capelle; Journal of
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8) Functional recovery
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20)Approach
to acute or subacute myelopaty,Neurology
Clinical Practice 2010,by Department of Neurology,Mayo Clinic College of
Medicine,Rochester.
21)Therapeutic interventions after spinal cord injury,
Nature Reviews,2006,by Sandrine Thuret,Lawrence D.F.Moon and Fred H.Gage.
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